As músicas parecem estar calando
Deve ser a esperança cedendo lugar à verdade
A certeza de perder começa a latejar mais constante
Já penso no jeito de tentar aceitar
Que eu te deixe partir pra sempre
Dolorido novamente
Só que desta vez não será apenas tentativa
Conseguirei definitivamente
Irá doer como nunca
Mas será de única vez
Conseguirei sofrer como poucos
Abrirei mão de muito
Como recompensa terei a mim novamente
Completo, solitário
Como nunca deixei de ser
Voltarei ao estado de hermetismo de que tanto gosto
Trancado, intocável, impenetrável
Sisudo para as alegrias breves
Ausente aos comburentes que se vão num mero sopro
Surdo às notas que noticiam nada
Passei por isto antes e fugi
Desta vez encararei
Sinto ser necessário mais este tempo
Ele novamente
Identicamente, sem minha culpa
Vista grossa para coisas demais
Fingi não enxergar o escancarado a minha frente
Agora já incomoda
Sentir o limite do próximo
Que não pulsa, expulsa: me repulsa
Só quis amar este tempo todo
Doei, entreguei, compartilhei
Desfiz de mim em prol do outro
Fiz tudo que devia fazer
Porém, ao amar, não se deve nada
Tudo é o espontâneo
Obrigação e ingratidão são incompatíveis com o nobre verbo
Ele não pede nada em troca
Apenas pessoas, duas
E não somos, pois
Infelizmente não seremos jamais
Certos passos nos tiram completamente da rota
Desvirtuam nossa jornada
Aniquilam certos destinos
As decisões mais devastadoras são sempre conscientes
Estou prestes a tomar uma delas
Gigantesca, atormentadora
Não tenho medo de colocar-me pedindo ajuda
Prezo a possibilidade de não recebê-la
Apenas proíbo-me ficar parado
Meu tempo de fazer findou-se
Qualquer apêndice é mero exaurimento
Precisamos de um passo seu
Daqueles devastadores
E então, sabe o que está fazendo?
Afirmativas sucessivas seriam bem vindas
Para que a duvida fosse apenas salva guarda
Ferramenta da heresia
Luxo de quem quer apenas ratificar
Vitória da perseverança sobre a teimosia