24.8.05

Fundamento

Em troca do benefício alheio
Dias passam
Ficam nossas faltas
Faltam nossas coisas

Deixamos de viver pequenas eternidades

Como se adivinhassemos valer a pena
Abrir mão de tanta vida indiscriminadamente
Por indivíduos indistintos
Risco grande tomar todos como iguais

Mas é indispensável

Senão perder-se-ia muito com tarefa desimportante
É preciso separar o realmente útil
Porem sejamos metodológicos
Usemos o instinto puro e salvador

Para que nos livremos do nosso próprio mal

A teimosia de não fazer
A facilidade em dar-se
A dificuldade de tentar
O medo fóbico de conseguir

Como se ser feliz fosse um pecado, um estigma

Ironicamente somos ultra capazes
Sabemos fazer coisas inimagináveis
Sem ter que sofrer por ou com isso
Simplesmente saber merecer

Querer é dom gratuito

Amoral por não ser punível
Atípico por não reter forma
Alucinante por suas virtudes
Amável por ser aquilo que buscamos

Atômico por sua indivisibilidade

Que difere completamente de ser egoísta
Queira ser feliz e compartilhe
Alce vôos longínquos
Alcance grande numero de pessoas

Leve em suas asas bondade e paz

Rancorise o rancor que arranca tristezas
Incruste jóias de atitudes boas
Ignore a falta de brilho que faz pesar
Seja luz de sua própria penumbra

Sorria por todo seu sempre

22.8.05

Detalhe

A única diferença
Entre teimosia e perseverança
É o alcançar ao objetivo

Vá e vença!

16.8.05

Instrumental

Não consigo enxergar a dificuldade
Em se fazer desta maneira
De se entregar de forma verdadeira
Com o entusiasmo de como se fosse a primeira

Com a liberdade de uma brincadeira

Experimentar cada novo movimento
Que baila ao sabor do vento
Que se move pelo firmamento
Amanhecendo noite adentro

Olhar sorridente de contentamento

Aquele arrepiar gostoso
Brisa fina, toque saboroso
Carinho iniciado no pescoço
Descendo costa abaixo em contorno sinuoso

Sensação de prazer vultoso

Grandes são estas pequenas coisas
Escondidas em enormes detalhes
Essas fendas, estes entalhes
Ferro quente em que se malhe

Criando formas que por si valem

O esforço, o suor, o gosto
A lágrima do corpo
Todo o seu sacro exposto
Beleza infinda sem sequer um rosto

Apenas a vontade incrível de se fazer

Precisamos de calor
De contato, toque, tato: imediato
Trocar, receber, doar: compartilhar
Fazermos sós, mirando a nós

Simplesmente desesperar

No sentido de não querer troco
De não retribuição
De ser senhor de todos os atos
Ser sozinho em comunhão

Abrir a porta ao coração

Sem exibir ou emitir convites
Fazer com que passem por nós
Como se portais fossemos
Levando nossos viajantes

Ao mundo mais bonito

Desinteressa se perfeito
Melhor ou insubstituível
Necessário que estes emigrantes
Percebam sua natureza

Que se saibam portadores da riqueza

De sermos enfim eternos construtores
Fazedores de construções imensas
Tão atateis quanto densas
Não queira ser cobiçado

Almeje ser dividido

Prepare-se para o bem intraduzível
Que é ser querido, preferido
Ser mais um entre os tantos bons
Conter e ser contido

Saibamos não ser preteridos

Grite a si mesmo que precisamos de amor
Que ele se espalhe por todas as esferas
Demos carinho indiscriminadamente
Independente do bem que tenham nos feito

Pandóricos de coisas boas

Tenhamos em mente sempre que as ruins existem
Enfurnam-se em nosso ócio e persistem
Encontrando lugar em maus vícios
Na mistura de maldade e cobiça: malícia

Convivamos com ela então

Mas sejamos inteligentes
Informemo-nos sobre as atrocidades morais
O suficiente para reconhecê-las
Troquemos contato com elas o necessário para não exerce-las

Mergulhemos na lama pútrida e respiremos pureza

Acreditemos que mesmo sob escombros
Seguros como água em represa
Há força para romper barreiras
Dúvidas para se alcançar certezas

Existe amor, invasor de qualquer fortaleza

10.8.05

Anseio

A vida se encarregou de fazer a arte
Escreveu tudo com tinta muito colorida
Trouxe a brisa
Levou o sossego

Ficou a saudade

Toda vez que ela bate em minha porta
Pergunto-me se devo mesmo abrir
Se preciso desta rotina tão incerta
Que é não saber o momento depois do agora

De viver por derradeiro instante

Sou feito de vida
Que reside em meu corpo útil
Um sentimento vital
Que quer você sempre e mais

Amor que me faz único, imortal

Quero mais e sempre
Alucinado, descontrolado
Suplicante de sua especificidade
Louco por sua poesia única

Cego diante de sua aparição

Ofuscando as estrelas
Neste momento, tão pequenas
Fazendo da lua enorme
Detalhe quase despercebido

Frente sua grandiosidade

Vindoura e edificante
Pilar de uma vontade que transcende
Arrimo de verdade incontestável
Impossível aquilo que nos fará parar

Continuarei indefinidamente

Mas quero todas as definições
Preciso daqueles pontos finais, afinal
Não quero ser mais reticente
Desdesejo ser o último ponto de suas reticências

Serei a interrogação mais concreta de sua vida

Para que se pergunte sempre
O que somos definitivamente
E que se responda todas as vezes
Que somos perfeitos

Feitos um para o outro

4.8.05

Amplidão

Concede a graça do início dos tempos
Planta em minha natureza pura sua pureza
Infinita e simples como este que respiro
Ar denso, intenso e precioso

Indispensável como minha vontade

Ser despretensioso é no mínimo hipócrita
Não há aquele que nada pretende
Pois até tentar não querer
Já é uma enorme tentativa

Negar o tudo é infame e grandioso ato

Das variáveis que se apresentam
Algumas são importantes
O caminho em si
Transmutado e revestido por coragens e medos

Deriva de quesitos ainda maiores

Mire o ímpeto e repare
Tudo que te move lhe comove
Faz seu olhar queimar
Seu corpo arde e a paralisia incomoda

Inexplicavelmente pulamos abismo acima

Deixar o corpo cair simplesmente é fácil
Qualquer um tem descontrole sobre o corpo
Basta abrir mão das dificuldades
Embrenhando-se no marasmo do destino

Sempre calado, falso: cadafalso

Onde a humanidade se esvai
Buraco iluminado, atrativo
Convite quase irrecusável
Sedução constante, beirando o paraíso

Cheiro cru e instigante dos anjos

Abra a mente para a clareza dos fatos
Quanto mais alto o despenhadeiro
Mais fundo estaremos ao chegar lá em baixo
Gradação de solidão, tristeza, frio

Quanto menor seu espaço, maior o vazio

Almeje deparar-se com infinitas montanhas
Contemple sua magnitude
Quão indevassa é aquela estrutura
Postada a sua frente, realmente imóvel

Porém, completamente transponível

Desnecessário mover um músculo
Verter uma gota sequer de suor
Mudez completa, ausência de grunhidos
Inamovibilidade delirante

Basta querer

O mundo transforma-se no tabuleiro perfeito
O mestre do jogo imbuiu-se da arte de jogar
Admitiu a possível derrota
Conseguindo o que faltava para a fatídica vitória

Agora é preciso e precioso vencer

Não somos mais deuses
Tampouco vermes demoníacos incapazes
Apenas e completamente humanos
Que sentem na carne cada lança, cada lance

Geradores das atitudes mais lindas e perfeitas

Os seres celestiais mais belos e complexos
São reflexo de nossas atitudes
Enumere uma só exclusiva destes seres
E torne-se o único a conhecê-la

Pois ninguém é capaz dos atos que proferimos

Abra mão das tradições, dos costumes, dos ditames
Destrua todos os dogmas, leis e superstições
Corrompa o medo mais profundo de sua alma
Prostitua sua certeza mais decente

Adolesça a velhice de ser criança

Afie o instinto que lateja em suas entranhas vermelhas
Aguce o tino de seu faro que pulsa em músculos fortes
Contraia ao máximo cada pensamento de desistência
Decante a dor na leveza de suas lágrimas

Torne-se filtro daquilo que realmente merece

Suba cada vez mais alto e livre
Use toda força de suas pernas
Infle estes pulmões de energia
Pra poder berrar a todos os ventos ao chegar:

Consegui, pois quis estar neste lugar

Repare as mãos doídas e cortadas
Fixe-se nesta imagem absurda e completa
Lembre para o resto de sua vida
Que elas são apenas extremidades

De um ser capaz, pleno em vontade

Aprenda que seu momento do agora
Este mesmo, crível e verossímil
É somente a tangibilidade da imensidão que carregamos
Da vastidão chamada experiência

Que de tão grande, só se mostra em partes

Pedaços indissociáveis e indissolúveis
Do conjunto grandioso e harmônico que somos
Presente único e inigualável
Continente de amor e fé

Acredite-se, pois no mínimo, somos aquilo que é

2.8.05