16.8.05

Instrumental

Não consigo enxergar a dificuldade
Em se fazer desta maneira
De se entregar de forma verdadeira
Com o entusiasmo de como se fosse a primeira

Com a liberdade de uma brincadeira

Experimentar cada novo movimento
Que baila ao sabor do vento
Que se move pelo firmamento
Amanhecendo noite adentro

Olhar sorridente de contentamento

Aquele arrepiar gostoso
Brisa fina, toque saboroso
Carinho iniciado no pescoço
Descendo costa abaixo em contorno sinuoso

Sensação de prazer vultoso

Grandes são estas pequenas coisas
Escondidas em enormes detalhes
Essas fendas, estes entalhes
Ferro quente em que se malhe

Criando formas que por si valem

O esforço, o suor, o gosto
A lágrima do corpo
Todo o seu sacro exposto
Beleza infinda sem sequer um rosto

Apenas a vontade incrível de se fazer

Precisamos de calor
De contato, toque, tato: imediato
Trocar, receber, doar: compartilhar
Fazermos sós, mirando a nós

Simplesmente desesperar

No sentido de não querer troco
De não retribuição
De ser senhor de todos os atos
Ser sozinho em comunhão

Abrir a porta ao coração

Sem exibir ou emitir convites
Fazer com que passem por nós
Como se portais fossemos
Levando nossos viajantes

Ao mundo mais bonito

Desinteressa se perfeito
Melhor ou insubstituível
Necessário que estes emigrantes
Percebam sua natureza

Que se saibam portadores da riqueza

De sermos enfim eternos construtores
Fazedores de construções imensas
Tão atateis quanto densas
Não queira ser cobiçado

Almeje ser dividido

Prepare-se para o bem intraduzível
Que é ser querido, preferido
Ser mais um entre os tantos bons
Conter e ser contido

Saibamos não ser preteridos

Grite a si mesmo que precisamos de amor
Que ele se espalhe por todas as esferas
Demos carinho indiscriminadamente
Independente do bem que tenham nos feito

Pandóricos de coisas boas

Tenhamos em mente sempre que as ruins existem
Enfurnam-se em nosso ócio e persistem
Encontrando lugar em maus vícios
Na mistura de maldade e cobiça: malícia

Convivamos com ela então

Mas sejamos inteligentes
Informemo-nos sobre as atrocidades morais
O suficiente para reconhecê-las
Troquemos contato com elas o necessário para não exerce-las

Mergulhemos na lama pútrida e respiremos pureza

Acreditemos que mesmo sob escombros
Seguros como água em represa
Há força para romper barreiras
Dúvidas para se alcançar certezas

Existe amor, invasor de qualquer fortaleza

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