Não consigo enxergar a dificuldade
Em se fazer desta maneira
De se entregar de forma verdadeira
Com o entusiasmo de como se fosse a primeira
Com a liberdade de uma brincadeira
Experimentar cada novo movimento
Que baila ao sabor do vento
Que se move pelo firmamento
Amanhecendo noite adentro
Olhar sorridente de contentamento
Aquele arrepiar gostoso
Brisa fina, toque saboroso
Carinho iniciado no pescoço
Descendo costa abaixo em contorno sinuoso
Sensação de prazer vultoso
Grandes são estas pequenas coisas
Escondidas em enormes detalhes
Essas fendas, estes entalhes
Ferro quente em que se malhe
Criando formas que por si valem
O esforço, o suor, o gosto
A lágrima do corpo
Todo o seu sacro exposto
Beleza infinda sem sequer um rosto
Apenas a vontade incrível de se fazer
Precisamos de calor
De contato, toque, tato: imediato
Trocar, receber, doar: compartilhar
Fazermos sós, mirando a nós
Simplesmente desesperar
No sentido de não querer troco
De não retribuição
De ser senhor de todos os atos
Ser sozinho em comunhão
Abrir a porta ao coração
Sem exibir ou emitir convites
Fazer com que passem por nós
Como se portais fossemos
Levando nossos viajantes
Ao mundo mais bonito
Desinteressa se perfeito
Melhor ou insubstituível
Necessário que estes emigrantes
Percebam sua natureza
Que se saibam portadores da riqueza
De sermos enfim eternos construtores
Fazedores de construções imensas
Tão atateis quanto densas
Não queira ser cobiçado
Almeje ser dividido
Prepare-se para o bem intraduzível
Que é ser querido, preferido
Ser mais um entre os tantos bons
Conter e ser contido
Saibamos não ser preteridos
Grite a si mesmo que precisamos de amor
Que ele se espalhe por todas as esferas
Demos carinho indiscriminadamente
Independente do bem que tenham nos feito
Pandóricos de coisas boas
Tenhamos em mente sempre que as ruins existem
Enfurnam-se em nosso ócio e persistem
Encontrando lugar em maus vícios
Na mistura de maldade e cobiça: malícia
Convivamos com ela então
Mas sejamos inteligentes
Informemo-nos sobre as atrocidades morais
O suficiente para reconhecê-las
Troquemos contato com elas o necessário para não exerce-las
Mergulhemos na lama pútrida e respiremos pureza
Acreditemos que mesmo sob escombros
Seguros como água em represa
Há força para romper barreiras
Dúvidas para se alcançar certezas
Existe amor, invasor de qualquer fortaleza
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