Concede a graça do início dos tempos
Planta em minha natureza pura sua pureza
Infinita e simples como este que respiro
Ar denso, intenso e precioso
Indispensável como minha vontade
Ser despretensioso é no mínimo hipócrita
Não há aquele que nada pretende
Pois até tentar não querer
Já é uma enorme tentativa
Negar o tudo é infame e grandioso ato
Das variáveis que se apresentam
Algumas são importantes
O caminho em si
Transmutado e revestido por coragens e medos
Deriva de quesitos ainda maiores
Mire o ímpeto e repare
Tudo que te move lhe comove
Faz seu olhar queimar
Seu corpo arde e a paralisia incomoda
Inexplicavelmente pulamos abismo acima
Deixar o corpo cair simplesmente é fácil
Qualquer um tem descontrole sobre o corpo
Basta abrir mão das dificuldades
Embrenhando-se no marasmo do destino
Sempre calado, falso: cadafalso
Onde a humanidade se esvai
Buraco iluminado, atrativo
Convite quase irrecusável
Sedução constante, beirando o paraíso
Cheiro cru e instigante dos anjos
Abra a mente para a clareza dos fatos
Quanto mais alto o despenhadeiro
Mais fundo estaremos ao chegar lá em baixo
Gradação de solidão, tristeza, frio
Quanto menor seu espaço, maior o vazio
Almeje deparar-se com infinitas montanhas
Contemple sua magnitude
Quão indevassa é aquela estrutura
Postada a sua frente, realmente imóvel
Porém, completamente transponível
Desnecessário mover um músculo
Verter uma gota sequer de suor
Mudez completa, ausência de grunhidos
Inamovibilidade delirante
Basta querer
O mundo transforma-se no tabuleiro perfeito
O mestre do jogo imbuiu-se da arte de jogar
Admitiu a possível derrota
Conseguindo o que faltava para a fatídica vitória
Agora é preciso e precioso vencer
Não somos mais deuses
Tampouco vermes demoníacos incapazes
Apenas e completamente humanos
Que sentem na carne cada lança, cada lance
Geradores das atitudes mais lindas e perfeitas
Os seres celestiais mais belos e complexos
São reflexo de nossas atitudes
Enumere uma só exclusiva destes seres
E torne-se o único a conhecê-la
Pois ninguém é capaz dos atos que proferimos
Abra mão das tradições, dos costumes, dos ditames
Destrua todos os dogmas, leis e superstições
Corrompa o medo mais profundo de sua alma
Prostitua sua certeza mais decente
Adolesça a velhice de ser criança
Afie o instinto que lateja em suas entranhas vermelhas
Aguce o tino de seu faro que pulsa em músculos fortes
Contraia ao máximo cada pensamento de desistência
Decante a dor na leveza de suas lágrimas
Torne-se filtro daquilo que realmente merece
Suba cada vez mais alto e livre
Use toda força de suas pernas
Infle estes pulmões de energia
Pra poder berrar a todos os ventos ao chegar:
Consegui, pois quis estar neste lugar
Repare as mãos doídas e cortadas
Fixe-se nesta imagem absurda e completa
Lembre para o resto de sua vida
Que elas são apenas extremidades
De um ser capaz, pleno em vontade
Aprenda que seu momento do agora
Este mesmo, crível e verossímil
É somente a tangibilidade da imensidão que carregamos
Da vastidão chamada experiência
Que de tão grande, só se mostra em partes
Pedaços indissociáveis e indissolúveis
Do conjunto grandioso e harmônico que somos
Presente único e inigualável
Continente de amor e fé
Acredite-se, pois no mínimo, somos aquilo que é
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