4.8.05

Amplidão

Concede a graça do início dos tempos
Planta em minha natureza pura sua pureza
Infinita e simples como este que respiro
Ar denso, intenso e precioso

Indispensável como minha vontade

Ser despretensioso é no mínimo hipócrita
Não há aquele que nada pretende
Pois até tentar não querer
Já é uma enorme tentativa

Negar o tudo é infame e grandioso ato

Das variáveis que se apresentam
Algumas são importantes
O caminho em si
Transmutado e revestido por coragens e medos

Deriva de quesitos ainda maiores

Mire o ímpeto e repare
Tudo que te move lhe comove
Faz seu olhar queimar
Seu corpo arde e a paralisia incomoda

Inexplicavelmente pulamos abismo acima

Deixar o corpo cair simplesmente é fácil
Qualquer um tem descontrole sobre o corpo
Basta abrir mão das dificuldades
Embrenhando-se no marasmo do destino

Sempre calado, falso: cadafalso

Onde a humanidade se esvai
Buraco iluminado, atrativo
Convite quase irrecusável
Sedução constante, beirando o paraíso

Cheiro cru e instigante dos anjos

Abra a mente para a clareza dos fatos
Quanto mais alto o despenhadeiro
Mais fundo estaremos ao chegar lá em baixo
Gradação de solidão, tristeza, frio

Quanto menor seu espaço, maior o vazio

Almeje deparar-se com infinitas montanhas
Contemple sua magnitude
Quão indevassa é aquela estrutura
Postada a sua frente, realmente imóvel

Porém, completamente transponível

Desnecessário mover um músculo
Verter uma gota sequer de suor
Mudez completa, ausência de grunhidos
Inamovibilidade delirante

Basta querer

O mundo transforma-se no tabuleiro perfeito
O mestre do jogo imbuiu-se da arte de jogar
Admitiu a possível derrota
Conseguindo o que faltava para a fatídica vitória

Agora é preciso e precioso vencer

Não somos mais deuses
Tampouco vermes demoníacos incapazes
Apenas e completamente humanos
Que sentem na carne cada lança, cada lance

Geradores das atitudes mais lindas e perfeitas

Os seres celestiais mais belos e complexos
São reflexo de nossas atitudes
Enumere uma só exclusiva destes seres
E torne-se o único a conhecê-la

Pois ninguém é capaz dos atos que proferimos

Abra mão das tradições, dos costumes, dos ditames
Destrua todos os dogmas, leis e superstições
Corrompa o medo mais profundo de sua alma
Prostitua sua certeza mais decente

Adolesça a velhice de ser criança

Afie o instinto que lateja em suas entranhas vermelhas
Aguce o tino de seu faro que pulsa em músculos fortes
Contraia ao máximo cada pensamento de desistência
Decante a dor na leveza de suas lágrimas

Torne-se filtro daquilo que realmente merece

Suba cada vez mais alto e livre
Use toda força de suas pernas
Infle estes pulmões de energia
Pra poder berrar a todos os ventos ao chegar:

Consegui, pois quis estar neste lugar

Repare as mãos doídas e cortadas
Fixe-se nesta imagem absurda e completa
Lembre para o resto de sua vida
Que elas são apenas extremidades

De um ser capaz, pleno em vontade

Aprenda que seu momento do agora
Este mesmo, crível e verossímil
É somente a tangibilidade da imensidão que carregamos
Da vastidão chamada experiência

Que de tão grande, só se mostra em partes

Pedaços indissociáveis e indissolúveis
Do conjunto grandioso e harmônico que somos
Presente único e inigualável
Continente de amor e fé

Acredite-se, pois no mínimo, somos aquilo que é

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