O sorriso que se esboça em minha face
É mero embuste
Meio para revestir uma verdade interminável
Continente de uma realidade intransponível
Sou triste
Por mais que ponha a alegria em riste
Apesar de negar os meus pesares
Ainda que cantando muitos males
Tudo se me é inefícuo, prejudicado
Nada a que me entrego me decanto
Assim, atiro-me, almejo-me
Não que eu me aspire
Somente consigo convulsionar meu peito
Ingratamente repleto de vazio
Inexplicável; suspiro
Qualquer prazer assim me parece
Toda e qualquer dor me padece
Ínfima oração me forma prece
Colossais detalhes me aquecem
Nada além disso
Caráter meramente transitório
Faço-me passagem d'um caminho
Absolutamente desconhecido do que sou
O tudo sempre desagrega
Pensamento, cor e vento
Neste tempo meu impossuido
As pessoas que por mim ficam
Derradeiramente passam
Olho-me crédulo, porém inquieto
Tornei-me um algo sem alguém
Escondido na própria liberdade
Aprisionado pela ausência de sanções
Livre das condenações que desobrigam
Imaculado de chagas e marcações
Fui ao além em só e só eu estou
O medo de ser uno e único
Desaborrece
O que culmina, alucina, calcina
É acabar por querer o que me resta
Eu mesmo
Sozinho
Soturno
Conformado
Silente
De tudo e todos ausente
Não o bastante; suficiente
Não arrogante; prepotente
Não egoísta; indolente
Não parado; semovente
Tocado pelo tempo: intangível ente