28.11.05

Coisas minhas

Vai embora rapaz
Vai ver o dia morrer pra ver se você renasce
Aproveita a falta de compromisso e comprometa-se com você
Diga a si próprio que é impossível o possível não acontecer

Permita permitir-se viver.

Erga-se como quem irá dominar o mundo
Cheio de idéias
Repleto de vontades e novidades
Voraz na semeadura de bondade

Toma cada lacuna e as invade

Preenche este espaço sem dono
Com um bom punhado do seu ser
Fertiliza os corpos inócuos do caminho
Embrenhe de sagacidade a inamovibilidade do mundo

Faz da inércia combustível do movimento

Seja tempero dos ventos sem direção
Perceba-se em cada gota de chuva que tocar o solo
Responsabilize-se por cada nova semente que germinar
Sinta a maravilhosa força divina de ser pai

Faça-se mais que aquilo que supôs ser limite

Limite-se a não conhecer pontos finais
Portos seguros
Tormentas intransponíveis
Diga a todos a verdade maior:

Eu sou aquele que quer

Dê alma, ânimo, corpo a esta vontade
Tente de todas as formas conhecidas
Errando, lembre-se que nada finda
Use seu instinto

Pare e absorva o universo a sua volta

Reconheça que ele é seu residente
Está contido em você
É parte daquilo que desconhece de si
Um pouco do muito que pode ser

Exploda em todas as direções

Fundamente seus cacos perfurantes
Soerga pilares poderosos
Saboreie a deliciosa sensação
De escutar o mundo por dentro

Reverbere neste interior que lhe prepara

Espere apenas até o momento certo
Quando estiver tudo confortável e tranqüilo
Sob extremo e estrito controle
Desestabilize a harmonia monótona

Seja caos e traga a paz

Porque ser diferente e melhor a cada instante
Não é sinônimo de insatisfação
É busca contínua por algo que nunca chega
Almejar permanecer melhor

Beira o perfeito

Não queira, portanto
Bastar-se na completude do que parece divino
Transgrida, agrida, combata
Sempre sincero, justo e honesto

Como todo inimigo declarado: seja fiel

Diga todas as vezes
A que veio afinal
Que exteriorizar sua missão
Torne-se hábito comum

Grite: vim para conseguir e conseguirei

Esqueça as ajudas e facilidades
Por mais exposto e próximo que o objetivo esteja
Cabe a ti enxerga-lo
Querer tocá-lo

Transforme-se no gestor da sua vida

Proíba-se entregar seu destino a outrem
Compreenda de forma inescusável
Que seu caminho nunca esteve pronto
Que a rota nunca foi previamente traçada

Seja engenheiro e ocupante de sua estrada

Se por ventura lhe sobrevier bonança
Aceite-a de braços fortes e abertos
Pois que a rasura de sua capacidade também chega
E far-se-á hora de aproveitar-se da tolerância

Daqueles que se puseram em seu caminho

Não querer ajuda
Difere completamente de não pedi-la
Caso não lhe notem em apuros
Seja humilde e capaz:peça

A vergonha é ante-sala do fracasso

Doutrine-se a fazer suas regras
Justamente para não tê-las
Quem ocupa sua vida com próprias ordens
Vive pleno e satisfeito, não obedece ninguém

Só o que está ou é vazio pode ser ocupado: preencha-se!

17.11.05

Feita em verso

Não precisa permissão
Aquele que nasceu com a liberdade
Para que tanta confissão
Se portadora do convite da vontade

Deseje apenas e seja aquilo que sonha

Arrombe as portas que sequer existem
Penetre fundo como fio fino em carne tesa
Amole o desejo que lateja imenso
Inunde no mais profundo devaneio

Semeie sua existência em nossa ausência

Permita-se ser tudo que sonha
Plante cada dia do seu futuro
Neste presente que parece torto
Mas é o mais perfeito de seus dias

Seu agora é sua eternidade

Viva intensamente
Pois não o terá logo à frente
Nunca mais em sua frágil existência
Será tão indestrutível quanto agora

Nem no mais completo dos teus virtuosos pensamentos

Transpire cada gota de suor
Por algo que realmente possa fazer
Chore toda sua alegria em colos adorados
Pois a tristeza não foi feita para compartilhar

Aprenda que há coisas muito nossas

Que de tão tuas
Deixam-lhe nua
Tão minhas
Que em ti me inclua

Que sejamos aquilo que o porquê conclua

Sendo dúvida seremos sempre atraentes
Teremos em nosso seio o anseio do descobrimento
Em nosso leito o desalento atento dos que não param
Chegando enfim, num fim que nunca chega

Resta sermos contínuo movimento

Desenrolando histórias
Nem sempre narrativas
Juntando em palavras por vezes mortas
O calor intenso de brasas vivas

Colorindo de desejo a palidez da saudade

Invasora voraz e astuta
Consumidora de nossas horas
Causadora de tantas lutas
Senhora da maior das permutas

Doce o encontro do querer com poder

Verbos inocentemente separados ao nascerem
Aprendem e ensinam de forma natural
Que a bruteza da simplicidade humana
É estupenda e farta de intrínsecas qualidades

Impagável o esforço monumental de uma criança

Dando seu primeiro e radical passo
Decidindo seu destino tão prematuramente
Repare a violência deste gesto
Paradigmático ato insano de todos nós

Mesmo mergulhados em desconhecimento optamos abraça-lo

Para sermos cada vez mais fortes
Cada minuto mais poderosos
A cada passo mais senhores de nós mesmos
Sempre mais experientes

Ainda assim completamente perdidos

No infinito de possibilidades que nos tomam a reboque
Empurrando e sinalizando em qualquer direção
Fica difícil mudar o rumo
Quando postamo-nos indefesos em braços seguros

Força alheia nos contém, não traz segurança

Com pés ao chão e cabeça aos céus
Fica facílimo enxergar
Os rumos que minha visão permite
Os possíveis pontos onde devo parar

Reparar, respirar; continuar

Pois do interminável e constante desejo
Vem o ânimo que me enverga
Flexibilizando a não maleabilidade
Das certezas que se quebram

Diante do menor senão adiante

Insista em conseguir
Acredite que desistir é provável
Mas que ser derrotado é muito mais louvável
Que a fuga de si mesmo

Escreva seus próprios versos

E quando for verso de outro alguém
Acredite que não é por bondade
Foi você quem mereceu as palavras
Não havendo nenhuma caridade

Apenas dei forma ao adorar de verdade

11.11.05

Um ano

Queria poder dar a notícia neste texto, nestas linhas, neste dia. Mas ainda não chegou a hora. Há exato um ano eu escrevia por achar que o impossível havia me derrotado, ou simplesmente vencido. Felizmente a tristeza foi passageira, como todas são.

Precisava de uma saída para eu mesmo. Um caminho pelo qual eu trilhasse sozinho, sentindo minha dor sem ter que compartilha-la com mais ninguém. Mais ninguém que não merecesse ou fizesse parte daquilo que eu estava passando no momento.

Procurei um meio de expurgar sentimentos que atormentaram minha cabeça de forma muito construtiva. Doeu muito passar por tudo que eu não queria. Ver o amor de a minha vida entregar-se à formalidade da falta de saída, da ausência de coragem, da despresença de ousadia. Respeitei, cada um tem seu limite, este definidor de coisas impossíveis.

Descobri que eu era menos forte, menos direto: desmotivado. Encontrei milhões de significados novos para palavras e sentimentos que pareciam esgotados ou exaustivamente batidos e monótonos pela experiência alheia e até própria. Mergulhei num universo inédito de nomes carregados de novos significados, de significantes embrenhados em vida e cores jamais sonhadas.

Briguei comigo mesmo infinitas ocasiões e ainda o faço, pois que a dúvida é mãe da inteligência e ficar parado sem sequer pensar no próximo movimento é dar aos demônios a paz que não se tem. Encorajei a mim mesmo, toda vez que supunha estar na pior das situações e lembrava que toda vez que eu cogitava não suportar, eu já havia pensado isto antes e havia superado aquele obstáculo.

Aprendi da forma boa, que despenhadeiros, abismos e montanhas são feitas para serem escaladas, transpostas e vencidas. Desafios são coisas a serem superadas e lembradas com alegria, por mostrarem que as cicatrizes são marcas reais daquilo que se opôs a nossa vontade.

Tenho momentos felizes e faço questão de expô-los. Tenho lembranças boas e ineditismos maravilhosos. Fiz amizades sólidas e saudosas como só este meio sabe fazer. Aprendi que aprender é importante, mas que ensinar é uma arte fina e sutil, que demanda tempo, coragem e treino. Ficou claro que tentar é o verbo mais poderoso do mundo desde que atrelado, apaixonado e carnalmente ligado ao verbo querer.

Lancei-me esporros homéricos e xinguei todos os palavrões que queria e podia para agredir minha teimosia nos momentos de inércia total. Sacudi-me muitas vezes com umas porradas na cara, mas nunca quis meu próprio mal. Veio à tona uma grande faceta do ser humano: amamos sentir dor e pena de nós mesmos. Um vício que pode se tornar letal quando dominamos o prazer que o mínimo de felicidade pode trazer quando nos metemos em buracos muito fundos e de paredes lisas. Daqueles que são quase inescaláveis.

Criei muitas palavras novas. Neologismei muitas vezes, como agora, brincando com o substantivo e fazendo dele um verbo que não existia. É esta capacidade de construir coisas e sentimentos e sentidos que consegui tocar com este blog, que passou de terapia ou coisa parecida, a um imenso prazer, um lugar onde eu exponho minhas vivências e passagens, meus desejos e anseios, minhas tentativas, minhas derrotas e vitórias.

Felizmente, consigo me ver em cada palavra sussurrada ou vociferada nestes versos de métrica torta e ímpar que pessoas maravilhosas passaram a gostar e mostrar interesse. Queria mesmo ser tudo aquilo que alguns consideram e, quem sabe, talvez até seja, mas é melhor que eu não saiba, para continuar querendo melhorar sempre.

Não estou me despedindo, ou dando um tempo do blog. Estou apenas marcando uma data que é especial para mim também. Neste 11 de novembro de 2005 comemoro um ano de história, e como em poucas em minha vida, construí algo totalmente meu, prazeroso e independente.

Fica uma lição neste tempo e algumas considerações que julgo valiosas. Saibamos querer, pois quando decidimos que atitude tomar, resta ao mundo à opção de nos contrariar e não de ofertar um caminho. Tentemos sempre, sabendo que a tentativa é a única coisa perfeita do mundo; foi feita para se buscar um movimento e basta-se nesta vontade. A tentativa não influi na qualidade do resultado, apenas faz com que o resultado aconteça, ou não, como esperado. Sejamos inteligentes, para que além de estarmos alegres, permaneçamos felizes. Estar alegre é efêmero demais para a felicidade que uma vida consome. Sintamos dor o quanto for possível, mas apenas para ficarmos cada vez mais fortes, pois no mundo há injustiça e ingratidão demais para que contribuamos com nossa mesquinhez e egoísmo.

E, por fim, amemos sempre. Como eu costumo dizer: o ser humano precisa de amor! Amem de graça. Sejamos ultra sinceros. Entreguemos a vida por momentos de amor sem ter que morrer por causa disso. Choremos e liquefaçamos em corpo e alma, em desejo e lágrimas, mas que tenhamos saudade e lembranças para que suspiremos vida a fora. A todos que fazem parte da minha vida, que me lêem e que vivem comigo, um beijo e um abraço verdadeiro, grato e completamente feliz.

Para você Criatura, tudo aquilo que quiser de mim. Amo você!