10.2.08

O presente

Sempre achamos que a pior coisa existente
É ver um amor desvigorar, desexistir, acabar
Mas há coisa muito pior, duradoura e eterna
Solene, plena e completa

Um amor pode não continuar

Ainda vivo, intenso, ardente
Enterrado, soterrado, acossado
Mesmo que livre para crescer
Cheio de esperança

Ele só tem isso

Nada que o apóie e o coloque de pé
Pulsante, desforme, desamparado
Parado numa vontade rota, torta
Quase morta

Uma fístula

Aquele concentrado de força de um lado só
Empuxo severo demais
Sobrecarga deveras estafante
Transcendendo o limite do possível

Impossível sofrer ainda além

Instalado o misto de dores
Confusão de prazer e horrores
Pois ao mesmo tempo que este amar só desola
Só o amor consola

Mas esperar indefinidamente, demora

Fosse este tempo menor
Mensurável nos parâmetros que conheço
É além, porém
e só suponho que o mereço

Escapam de minha ampulheta estes oceanos de areia

Secos e vastos
Amplos e nefastos
Embebecidos num vento árido
Rasgador de minha veste simples

Alma que liqüefaz por ti

Chorarei por dentro certamente
Cada lágrima que tocar meu solo solidão
Nutrirá semente chamada liberdade
Descomprometido de minha própria sentença e prisão

Amarei e serei amado de verdade