É ver um amor desvigorar, desexistir, acabar
Mas há coisa muito pior, duradoura e eterna
Solene, plena e completa
Um amor pode não continuar
Ainda vivo, intenso, ardente
Enterrado, soterrado, acossado
Mesmo que livre para crescer
Cheio de esperança
Ele só tem isso
Nada que o apóie e o coloque de pé
Pulsante, desforme, desamparado
Parado numa vontade rota, torta
Quase morta
Uma fístula
Aquele concentrado de força de um lado só
Empuxo severo demais
Sobrecarga deveras estafante
Transcendendo o limite do possível
Impossível sofrer ainda além
Instalado o misto de dores
Confusão de prazer e horrores
Pois ao mesmo tempo que este amar só desola
Só o amor consola
Mas esperar indefinidamente, demora
Fosse este tempo menor
Mensurável nos parâmetros que conheço
É além, porém
e só suponho que o mereço
Escapam de minha ampulheta estes oceanos de areia
Secos e vastos
Amplos e nefastos
Embebecidos num vento árido
Rasgador de minha veste simples
Alma que liqüefaz por ti
Chorarei por dentro certamente
Cada lágrima que tocar meu solo solidão
Nutrirá semente chamada liberdade
Descomprometido de minha própria sentença e prisão
Amarei e serei amado de verdade