27.9.06

Atitulorium

Descansa enfim em minha boca
Como a saliva quase gota
Dependente e insustentável
Perfumada ao hálito de minha necessidade

Sinta meu prezo por ser-te indispensável

Cola em meu colo onde te coloco afável
Desbanca meu banco de carne e osso
Enlaça meu peito com seu dorso
Dobra seu desejo em meu pescoço

Abraça minha vontade com a firmeza de suas pernas

Suspira em minha vida esta morte breve
Seu prazer insano de imortalidade leve
O peso ínfimo que quer que releve
Seu interior que meu exterior revele

Ser dentro de seu ser tudo que pode o querer

Acorrente minha solidão hipócrita lá fora
Arremesse as chaves despenhadeiro abaixo
Prove ser fêmea onde me acho
Fenda sem arestas rústicas onde me encaixo

A rima desta frase é desnecessária

Preciso é o que preciso de você
Seu cheiro, seu gosto, seu rosto
Repousado em minhas mãos carinho
Coração ao teu lado, alado: passarinho

Que não passa de um filhote no ninho

A espera de seu calor proteção
De seu compromisso caução
Sua mentira; ilusão
A verdade: paixão

Vida entregue em sua mão

Ao se por às minhas em gratidão
Fechamos o ciclo de uma só vez
Sem esperar retorno, tudo tivemos
Sem o menor esforço tudo se fez

Repetiria tudo, sem a menor desfaçatez

20.9.06

Primavera

Atrelamos tanto o passado ao indesejado
Que por vezes, preconceituosamente
Abandonamos consultá-lo
Preterimos o pretérito aprendizado

Continuamos num futuro errado

Partimos da premissa que precisamos o novo
Esquecemos da instrução básica
Anterior a todo almejado destino
Fundamental e precedente a tudo

Há sempre um lugar de onde partimos

Um antes que prevê o depois
O aceno que será adeus
O breve que perdurará
Amanhã que sempre foi e será hoje

Futuro é ser filho do passado

O tempo longe do papel
Provou-me o significado da saudade
Pulverizou qualquer noção de idade
Apanhei-me escrevendo as linhas do costume

Retas-atalhos das minhas voltas tortas

Que entortam, rodilham, envolvem
Que cansam, insistem, comovem
Trazem de volta o velho hábito
Ressuscitam este antigo jovem

Que renasce a cada escolha nas palavras

A vida impôs-se ao meu viver
Ultimou minha rotina com propostas voláteis
Mas passageiro á a única coisa que o tempo não é
Ele fica, agrura, perdura

Escolhi viver

Aprendi que decidir deriva de inoportunidades
Da total falta de escolha
De ausência de liberdade
D’uma imposição que permiti fazerem-me

Anecessária posição

Tal qual regras de escrita e das palavras
Que nem sempre abarcam meus significados
Outrossim, quase nunca os absorvem
Ouso criar algumas que me satisfaçam

Ousadia; fruto dos que colocam o desejo ao norte

Incuta razão em seus sonhos
Embuta coragem a seus atos
Imprima confiança a seus acompanhantes
Exprima-se somente por derradeiros fatos

Fatalmente irá vencer

Continuo buscando mais
Persisto em fazer melhor
Por mais que eu prospere e vença
Cobrar-me-ei em ser maior

Não se limita o imensurável, ninguém mede o desejo pois