28.10.05

Inevitável

Tomara que seja mesmo
Um dom desses que se cultiva
Apenas por se estar vivo
Simplesmente por ser comum

Nada mais que habitualidade

Dizer que não se percebe seria falso
Sei que as palavras têm certa importância
Um quê de extravagância
E em momentos como o deste exato

Doses cavalares de ignorância

Motivos para uma explosão existem
Seria aproximar do ridículo
Usar comum justificativa
Prefiro o difícil exercício

De entender a posição alheia

Paciência é relacionada à ignorância
Quanto menos sei das razões alheias
Mais paciente permaneço
Quando consigo mostrar que entendo os motivos

Já não devo segurar

Bondade não significa submissão
É ser justo com erros próprios
Ser receptivo aos acertos dos outros
Manter-se inteligente para perceber sutilezas

Estar pronto para ser grosso

Quando pisarem no seu calo doído
Olhando na sua cara torcida
Com o hálito do propósito impregnando
Não tenha dúvidas

Parta para dentro

O abuso descarado e iminente
É convite ao revide
Trinque seus dentes com bastante raiva
Segure no pescoço do oponente

Parta-lhe a cara

Seja visceralmente incontrolável
Lute por seu território
Derrube aquele corpo inútil
Pise naquela garganta escrota

Exemplifique aquela velha e boa lei

Estes dois corpos não ocuparão o mesmo espaço
Nunca,
Jamais,
Nem fodendo

Pois não há amor

O ser humano precisa de amor
Ondas devastadoras de calor
Regado a bastante desejo
Vontade de consumir aos beijos

Destrua, então, este ser repugnante

Que teima em encher o saco
Falso, asqueroso, nojento e descartável
Ignóbil, tosco, podre, maldito
Infeliz, desgraçado, babaca

O verdadeiro merda

Quero que você vá
Para a puta que o pariu
Vai chamar sua mãe, aquela vaca
De amigão

Amigão é o caralho

Vem com esta voz mansa
Este jeito mole, falso
Ridículo e intragável feito um verme
Personificação do vazio mal intencionado

Um porra nenhuma ambulante

Com a nuvem carregada sobre a cabeça
Cheia de pensamentos e vontades tortas
Dispara sorrisos entre dentes amarelados
E olhares cinzentos, pesados, malvados

Louco por uma vaga na minha alegria

Que possa ser ocupada por sua dureza
Transmutada em sua aspereza rude
Na rouquidão desta garganta que pigarreia
Feliz ao perceber tristeza em outros corpos

Sinto pena de você, infeliz

Pois aquilo que é estado passageiro para mim
É condição inconteste para os da sua laia
Enquanto sou feliz por não estar triste
Ficas triste por estar feliz

Sorva a lama de sua construção desprezível
Seja o porco mor deste chiqueiro nauseabundo
Só não venha com seus braços e abraços
Pois sua sujeira é dos poucos entes que me desfaço

Mantenho meu interior limpo

Por mais que minhas vestes lhe digam quase nada
Dói notar
Que ao perceber-se em meu brilho simples
Sua alma rugosa chora invejosa

Deus perdoe você, amém!

13.10.05

Inflexivo

Sangra desgraçado
Arranca a face deste sorriso
Leva embora a verdade desta doce mentira
Naufraga nestes céus turbulentos

Inventa o caminho que lhe sobrevirá

Costura a pele com pontos grandiosos
Doloridos como a crença na vitória
Que esgota suas forças
Rebrotando vontades sequer tidas

Encare o inimaginável

Esmurre toda dúvida
Espere o vento que lhe fará combustão
Alimente este fogo com seu suspirar
Entregue aos profanos deuses sua carne pura

Morra outra vez

É o que faz a cada dia pois
Reinventar-se, renascer-se, retirar-se
De um mundo que não lhe regozija
Alijando-te da naturalidade do processo

Os pilares já não te sustentam

Houve alegria de certo
Mas ela finou-se, findou, cresceu
Transmutou-se e quase ninguém entendeu
Mostrou-se tão nova e simples que se perdeu

Pergunte ao si, se este é o eu

Resposta banal para um movimento crucificante
Que machuca, tortura, agonia; muda
Isto incomoda, irrita, destoa
Porém, de inevitável forma vem

Domando o ímpeto e criando realidades

Já não se lhe pertence mais
Decaiu seu próprio direito de ter-se
Perambula a esmo, esquálido, invalido: enfermo
Procurando um nada absurdo que inexiste

Pare de entregar sua vida

Admita que o você seja o eu
Esqueça o traste que um dia foi
Aceite o açoite deste que também morrerá
Foi exatamente pra isso que veio

Desapegue-se desta mania infame de encerrar-se imutável

És completamente transitório
Instável, inconstante; itinerante
Versátil, versado, versante
Indiscutivelmente mutante

Permita-se de derradeira vez

Note que sua história lhe pertence
Que sua vontade tem aliados
Inteligência e saúde proporcionam
A mudança que necessita existir

Acorde para o objetivo

Esqueça o medo, a dor, a crença
A força, o devaneio
O cansaço e a doença
Seja carrasco, sentenciado e sentença

Sem conseguir ser egoísta

Dome este bicho louco que ricocheteia em ti
Deixe-o explodir ao menos uma vez
Sinta a força que ferve em seu interior
Expila suas sementes ao sabor das tormentas

Veja-se nas ondas que arrebentam num lindo espetáculo

Forte, poderoso, barulhento e proposital
Insista em manter-se vivo afinal
Deseje, queira, ame
Aprenda que conseguir e vencer

São verbos de sua primeira pessoa

Continue aspirando aqueles inconhecidos horizontes
Ultrapasse os pontos antes inalcançáveis
Quando achar-se pensando que já é o suficiente
Lembre que isto já havia sido cogitado

Ensurdeça o mundo com seu silencio

Encha sua vida de brilho
Misture ao suar a lágrima da conquista
Argua-se se tem tudo que quer
Responda sempre que não

Pare de querer parar

Movimente-se,
Canse, descanse, dance
Ao som da sua própria música
Ritmada pelos solavancos de seu corpo

Pulsando desesperadamente

Jamais sossegue
Mesmo completamente estático
Dedique-se a criar o perfeito hábito
De criar vontades

Para mudar sua intima história

Que apesar de exclusivamente sua
Arrebanha personagens através do tempo
Sinta o prazer de ser o navegador destes mapas
Responsabilize-se pelo destino destes

Que confiam plenamente em ti

Dê-lhes carinho e os escute
Espalhe afeto e fale a todos
Seja sincero e escolha os mais necessitados
Seja amor e abrace o mundo

Seja você, mar que me inundo

4.10.05

Sons

Não dificulte
Pare de errar propositalmente
Deixamos de ser felizes
Por pura teimosia

Escute uma música boa

Viaje
Pense em lugares maravilhosos
Visite cada boa lembrança
Recorde como você foi capaz

E exercite apenas

Lute, ame, grite
Vá em frente
Fé em si deposite
Traga deus para o seu devido lugar

Mantenha-o dentro

Alimente-o
Trate-o com eterno carinho
Cuide-se
Ame-se

Seja verbo das suas ações

Cultive as boas
Semeie o vento
Para que as brisas levem
Sua bondade pelos arredores

Perfume o céu com sua cor

Ensine o que é ser bom
Chore ao contar a história
Emocione-se
Deixe vazar tudo que lhe transborda

Jamais se segure

Abunde
Exacerbe
Extrapole
Exorbite

Transcenda

Perpasse todo o caminho
Todos eles
Seja um deles
Profundamente clame

Por mais uns dias para viver

Que sua passagem, mesmo breve
Dure eternamente
Consiga ser único
Importe-se apenas em ser

Desimporta lembrar dos feitos; imperioso lembrar do autor

Continue simples
Cada vez mais puro
Limpo, verdadeiro; seguro
Absorva a responsabilidade

De conseguir fazer alguém feliz

Chore novamente
Se entregue
E quando lhe perguntarem
O motivo das lágrimas

Responda serem de alegria, fruto de amor