Sangra desgraçado
Arranca a face deste sorriso
Leva embora a verdade desta doce mentira
Naufraga nestes céus turbulentos
Inventa o caminho que lhe sobrevirá
Costura a pele com pontos grandiosos
Doloridos como a crença na vitória
Que esgota suas forças
Rebrotando vontades sequer tidas
Encare o inimaginável
Esmurre toda dúvida
Espere o vento que lhe fará combustão
Alimente este fogo com seu suspirar
Entregue aos profanos deuses sua carne pura
Morra outra vez
É o que faz a cada dia pois
Reinventar-se, renascer-se, retirar-se
De um mundo que não lhe regozija
Alijando-te da naturalidade do processo
Os pilares já não te sustentam
Houve alegria de certo
Mas ela finou-se, findou, cresceu
Transmutou-se e quase ninguém entendeu
Mostrou-se tão nova e simples que se perdeu
Pergunte ao si, se este é o eu
Resposta banal para um movimento crucificante
Que machuca, tortura, agonia; muda
Isto incomoda, irrita, destoa
Porém, de inevitável forma vem
Domando o ímpeto e criando realidades
Já não se lhe pertence mais
Decaiu seu próprio direito de ter-se
Perambula a esmo, esquálido, invalido: enfermo
Procurando um nada absurdo que inexiste
Pare de entregar sua vida
Admita que o você seja o eu
Esqueça o traste que um dia foi
Aceite o açoite deste que também morrerá
Foi exatamente pra isso que veio
Desapegue-se desta mania infame de encerrar-se imutável
És completamente transitório
Instável, inconstante; itinerante
Versátil, versado, versante
Indiscutivelmente mutante
Permita-se de derradeira vez
Note que sua história lhe pertence
Que sua vontade tem aliados
Inteligência e saúde proporcionam
A mudança que necessita existir
Acorde para o objetivo
Esqueça o medo, a dor, a crença
A força, o devaneio
O cansaço e a doença
Seja carrasco, sentenciado e sentença
Sem conseguir ser egoísta
Dome este bicho louco que ricocheteia em ti
Deixe-o explodir ao menos uma vez
Sinta a força que ferve em seu interior
Expila suas sementes ao sabor das tormentas
Veja-se nas ondas que arrebentam num lindo espetáculo
Forte, poderoso, barulhento e proposital
Insista em manter-se vivo afinal
Deseje, queira, ame
Aprenda que conseguir e vencer
São verbos de sua primeira pessoa
Continue aspirando aqueles inconhecidos horizontes
Ultrapasse os pontos antes inalcançáveis
Quando achar-se pensando que já é o suficiente
Lembre que isto já havia sido cogitado
Ensurdeça o mundo com seu silencio
Encha sua vida de brilho
Misture ao suar a lágrima da conquista
Argua-se se tem tudo que quer
Responda sempre que não
Pare de querer parar
Movimente-se,
Canse, descanse, dance
Ao som da sua própria música
Ritmada pelos solavancos de seu corpo
Pulsando desesperadamente
Jamais sossegue
Mesmo completamente estático
Dedique-se a criar o perfeito hábito
De criar vontades
Para mudar sua intima história
Que apesar de exclusivamente sua
Arrebanha personagens através do tempo
Sinta o prazer de ser o navegador destes mapas
Responsabilize-se pelo destino destes
Que confiam plenamente em ti
Dê-lhes carinho e os escute
Espalhe afeto e fale a todos
Seja sincero e escolha os mais necessitados
Seja amor e abrace o mundo
Seja você, mar que me inundo
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