13.10.05

Inflexivo

Sangra desgraçado
Arranca a face deste sorriso
Leva embora a verdade desta doce mentira
Naufraga nestes céus turbulentos

Inventa o caminho que lhe sobrevirá

Costura a pele com pontos grandiosos
Doloridos como a crença na vitória
Que esgota suas forças
Rebrotando vontades sequer tidas

Encare o inimaginável

Esmurre toda dúvida
Espere o vento que lhe fará combustão
Alimente este fogo com seu suspirar
Entregue aos profanos deuses sua carne pura

Morra outra vez

É o que faz a cada dia pois
Reinventar-se, renascer-se, retirar-se
De um mundo que não lhe regozija
Alijando-te da naturalidade do processo

Os pilares já não te sustentam

Houve alegria de certo
Mas ela finou-se, findou, cresceu
Transmutou-se e quase ninguém entendeu
Mostrou-se tão nova e simples que se perdeu

Pergunte ao si, se este é o eu

Resposta banal para um movimento crucificante
Que machuca, tortura, agonia; muda
Isto incomoda, irrita, destoa
Porém, de inevitável forma vem

Domando o ímpeto e criando realidades

Já não se lhe pertence mais
Decaiu seu próprio direito de ter-se
Perambula a esmo, esquálido, invalido: enfermo
Procurando um nada absurdo que inexiste

Pare de entregar sua vida

Admita que o você seja o eu
Esqueça o traste que um dia foi
Aceite o açoite deste que também morrerá
Foi exatamente pra isso que veio

Desapegue-se desta mania infame de encerrar-se imutável

És completamente transitório
Instável, inconstante; itinerante
Versátil, versado, versante
Indiscutivelmente mutante

Permita-se de derradeira vez

Note que sua história lhe pertence
Que sua vontade tem aliados
Inteligência e saúde proporcionam
A mudança que necessita existir

Acorde para o objetivo

Esqueça o medo, a dor, a crença
A força, o devaneio
O cansaço e a doença
Seja carrasco, sentenciado e sentença

Sem conseguir ser egoísta

Dome este bicho louco que ricocheteia em ti
Deixe-o explodir ao menos uma vez
Sinta a força que ferve em seu interior
Expila suas sementes ao sabor das tormentas

Veja-se nas ondas que arrebentam num lindo espetáculo

Forte, poderoso, barulhento e proposital
Insista em manter-se vivo afinal
Deseje, queira, ame
Aprenda que conseguir e vencer

São verbos de sua primeira pessoa

Continue aspirando aqueles inconhecidos horizontes
Ultrapasse os pontos antes inalcançáveis
Quando achar-se pensando que já é o suficiente
Lembre que isto já havia sido cogitado

Ensurdeça o mundo com seu silencio

Encha sua vida de brilho
Misture ao suar a lágrima da conquista
Argua-se se tem tudo que quer
Responda sempre que não

Pare de querer parar

Movimente-se,
Canse, descanse, dance
Ao som da sua própria música
Ritmada pelos solavancos de seu corpo

Pulsando desesperadamente

Jamais sossegue
Mesmo completamente estático
Dedique-se a criar o perfeito hábito
De criar vontades

Para mudar sua intima história

Que apesar de exclusivamente sua
Arrebanha personagens através do tempo
Sinta o prazer de ser o navegador destes mapas
Responsabilize-se pelo destino destes

Que confiam plenamente em ti

Dê-lhes carinho e os escute
Espalhe afeto e fale a todos
Seja sincero e escolha os mais necessitados
Seja amor e abrace o mundo

Seja você, mar que me inundo

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