30.5.05

Sem asas

Venho de mais um início
Eles sempre acabam assim
Despenhadeiros silenciosos
A voz sempre berra na minha vontade

Vou pular, irremediavelmente

Procuro por estes saltos sempre
Como de costume sento no seu ponto crítico
Apesar de conhecer tudo que deixei pra trás
Contemplo este novo passado recém concluído

Acenando com gestos de presente

Consegui tanta coisa nele
Que me parece tentador
As chamas de conquistas conscientes
Aquecem meu orgulho que perece querer calmaria

Levanto humilde: respiro fundo

Deixo meu último sopro no ar
Meu âmago num derradeiro suspiro
Sorrio por dentro e aprazo-me
Deliciosa esta sensação do vazio que se preenche

O futuro do meu presente está liberto novamente

Um vento infame sibila a meus ouvidos
Pedidos de estagnação serpenteando
Sinto pena dele
Sequer imagina aonde quero chegar

Suicídio seria parar repentino, imotivadamente

Puro movimento
Falta de contentamento
Inconfundível com tristeza
Certeza que conseguirei sempre

Calculo o tempo da queda livre em lembranças

Terei do ontem sinceros sorrisos
Contundentes cicatrizes pela alma
Invisíveis aos meus amigos
Indizíveis aos que apenas criticam

Perdemos quando nossa fala nos ensurdece

Queremos tanto ser voz
Acabamos por nos mudificar
Deveríamos ser audíveis
Mas apenas vemos com nossos ouvidos tortos

Oásis pérfidos, perdidos e amorfos

Meus olhos não servirão de nada agora
Fecho-os, e meu coração se expande
Minha pele sente cada alteração da temperatura
O calor da coragem invade

Sei que vou precisar de força

Posicionamento é essencial
Devemos saber como e onde cair
Quando queda e dor são inevitáveis
Quando crescer é incontrolável

De pé, pois precisarei da cabeça intacta

Pulo completamente feliz
Cobiço a mim mesmo plenamente
Aprendi que é importantíssimo perceber
Quando conseguimos o que queríamos

Não quero sonhos quando estou acordado

É tempo de fazer sempre
Salto revitalizantemente sublime
Certamente terei pernas tremulas no final
Este recomeço é ulteriormente distante

Tudo envereda saber e busca

Membros inferiores completamente impedidos
Impossibilitado de andar devido ao choque
Queda livre alucinante
Sem um desquerido pára-quedas

O momento limitador

Podemos deixar que o passado apressado nos consuma
Como um alento para a dor do atual desconhecido
Tornando impróprio tamanho desprendimento
Desperdiçando o fortalecimento forjado nos idos

Miro meu sol ao longe e limito meu próximo passo

Pensamentos no lugar me dão asas
Voarei até poder caminhar
Fase adequada dos sonhos
Hora para refletir e pensar

Descanso merecido para quem se comprometeu marchar

Reconfortado pelo sono rápido
Levanto palpitando expectativas
Ainda dói em muitos cantos
Mas o sangue que escorre sinaliza a dádiva

Estou vivo e posso continuar a vida

Com passos firmes, pés calçados de experiência
Bússola imantada de instinto
Apontando mais uma vitória
Por mais que ela gire e dance em espirais de fogo

Contemplarei cada mudança de seu ritmo incerto

Nunca fujo dos demônios que se apresentam
Uma vez no inferno
Peça ao diabo para assinar
Faça um trato com ele

Serão um do outro até a música parar

Referencias aos limites
Devemos saber impô-los
A nós mesmos
Para que não andemos indefinidamente

As músicas sempre acabam

Como finda o tempo de chorar
Hoje, visto o traje da felicidade
Com botões reluzentes
Relógio de horas contentes

Vontade enorme de vê-las passar

Cada ínfima escolha de nossas vidas
Nos leva a seguir ou parar
Depende do que realmente queremos
Do como e onde queremos ficar

Nem comece se desconhece onde vai terminar

Quero os desafios da vida
Os prazeres da carne
Os desejos da alma
Qualquer pressa e toda calma

O amor, que sempre mata, renasce e salva

24.5.05

Transparencias

Sua carne
Quero mais dela, mais nela
Ser meu tempo que não acaba em você
Mas que no seu ser se encerra

Quando entra, finca e fecunda; terra

Suar sobre sua fertilidade dada
Pronta como as nuvens que proporcionam chuva
Seus planaltos, planícies, depressões e lagoas
Pois seu liquido é levemente salgado

Temperado com o cheiro do desejo derramado nele

Não te vejo coisa
Sinto-lhe gente
Fervente, ardendo, ardente
Inteiramente febril

De interior alucinantemente quente

Que me queima e não adoece
Que me maltrata e não me padece
Por me deixar de boca seca me entorpece
Que da prazer e o merece

Possua toda minha capacidade de satisfazê-la

Deixe minha língua pintar você
Transparente
Para não lhe perder
Saber cada nuance de sua pele

Beijar cada pinta linda que se espalha por seu corpo

Arraste sua cor por minha vermelhidão sacana
Entenda meu falo
Quando falo
Pelo intenso de seu interior

Onde me calo

Que você absorva minha mudez grunhida
Dando voz as genitálias vivas
A minha, a sua: unidas
Falando amor de forma transcendente

O inexplicável só se sente

Imprima seu desejo em mim com força
Deixe seu rastro presente, forte, pertinente
Qu’eu encontro o caminho
Penetrando seus portões de frente

Implicou, agora agüente

Largue-se e solte esta vontade
Crave as unhas, me abre as costas; invade
Solte esta garganta e liberte esta alma em gozo
Antes que eu arranque este orgasmo com a língua

Mas para que pressa se podemos esperar, ainda

Você de pé
Mãos na parede, espalmadas
Pernas lisas, coxas firmes, bunda empinada
Quase malvada merecia palmadas

Maravilhosa quando fica vermelha

Recosto minha testa sobre sua nuca arrepiada
Uma palavra implicante
Sua respiração profunda
Você completamente maluca

Leva meu corpo pra dentro do seu, ofegante, delirante

Dança nova
A musica de hoje fui eu que compus
O traje desimporta
Pois dançaremos completos e inteiramente nus

Irrepreensível as formas que toco e as que vejo no espelho

Alucinante perceber nós dois
Quando somos um só
Meu corpo dentro do seu
O seu guardando o meu

Consumiremos o desejo de antes durante o depois

Momento de plena degustação
Quero seu hálito, seu dedo do pé, suas mãos
Levo seu corpo a boca
Imitando as suas em forma de vão

Espaços onde me enfio: me perco, me acho

Você fêmea; eu macho
Além de todo instinto um fato:
Sempre há o carinho no rosto, o abraço
Escorrego suado nos seios, me encaixo

Olhos abertos, beijo na boca, meu peso em você

Refletidos nos olhos do outro
Percebemos o momento quase cruel
No ápice do calor infernal
Chegamos juntos ao céu

Unindo seu verniz reluzente ao meu branco pastel

23.5.05

Juntos

Tinha certeza que você podia esperar
Que pararia sua vida se fosse preciso
Mesmo sabendo que não tinha a menor noção do quando
Faria o impossível por apenas um momento

Um segundo que lhe reservasse a felicidade plena

Mas o respeito por sua vontade
É maior que minha eficácia em ser egoísta
Jamais me permitiria usar sua esperança
Como desculpa para minha covardia

Desperto do sono cômodo, como um cavalo recém parido

Dou coices a esmo no vento
Tentando acertar o tempo perdido
Ponho me de pé
Pois é preciso correr muito

Estive séssil por demais

Tenho um mundo adverso para dobrar
Cada aresta, cada farpa
Tocarei todas
Minha carne ficará pelo caminho

Seriei mais forte em cada gota derramada

Este sangue tem destino certo
Renovação dolorosa
Que trará um fruto vermelho e vivo
Nosso amor em carne e sentimento

Tudo que meus sonhos quiseram de nós

Guinar-se-ão pelo ímpeto de conquista
Ganhar você dia a dia
Pelo prazer de lhe ser prazer
Pelo fato de proporcionar tudo que você quereria ter

Adivinhando seus objetivos intraçados

Matéria prima de sua construção
Liquidez de sua água
Para que eu não passe despercebido
Como o oxigênio que você respira

Invisível e indispensável

Quero que me perceba
Que eu lhe falte
Que me tenha
Que me coma e que me beba

Tangibilidade sutil e devastadora

Mais que necessidade; uma indispensabilidade
Não quero ser bom; serei o seu melhor
Longe é estar ao lado; permanecerei dentro
Jamais ser ausência; por vezes, estar saudade

Trocar o triste tenho que ir embora, por um feliz já volto

Sua vontade equivalente fez-me perceber
Que há possibilidade no incabível de ontem
Fazendo maior uma força antes enorme
Nada fará com que eu desista

Melhor ainda saber que não desistiremos

Obrigado por parar de fugir de si mesma
Por ter percebido o que é o amor
Descobrir a diferença entre paciência e conformismo
E tornar dois pronomes num ambíguo duplo solitário

Por ter feito de eu e você, um só nós dois

19.5.05

Externa

Calço pedras nos pés
Já não me faço estradas como antes
Caminhos fáceis são quedas d’água
Quero algo duro como minha alma

Incontavelmente derrotada

Ainda assim impenetrável
Auspiciosamente delirante e intrépida
Dada, como prostitutas pela estrada
Cobrando pouco ou quase nada

Quer apenas ser usada, vista, tripudiada, fagocitada

Chega de desvios e descansos
Resguardar um ideal incauto, incredulável
Desperdício temporal irremediável
Sem retorno ou regresso de lugar nenhum

Ignorância esta eterna vigilância mórbida

Como quem guarda defuntos com a própria vida
Tanto valor para uma lacuna da natureza
Zelo por um nada em completude
Desrespeito pela própria juventude

Clame-se por uma introspecção humilde

Recolha seus pedaços de gente
Monte cada coisa em seu devido lugar
Apresente uma mão à outra
Diga a seus ouvidos que quem fala é a garganta

Prove a seu coração que quem manda é a cabeça

Pense na sua vida
Suas coisas, seus desejos
Seu passado é um presente
Ou seu futuro já é passado?

Ama-te como faz com o próximo

Que pode estar longe
Inalcançável, impalpável
Mesmo assim, de querer indevasso e intransferível
Visão paradisíaca dum inferno chamado perfeição

Acima de tudo somos o que nos resta

Tudo que temos
Que queremos
Quando não houver mais ninguém
Nem mesmo tempo

Seremos sós; nós com nós mesmos

Então se goste
Prove seu sabor e delicie-se
Consuma íntimo desejo e satisfaça-se
Seja alvo de sua vontade

Descubra que não é verdade

Que sozinho é justo como está
Pior, é tudo que, por desventurança, é
Tem tudo e tudo lhe falta
Um vazio aterrador que lhe enterra vivo, amargo

Nos falta o outro

Nosso amor
Nosso par
Que quando temos traz ar
Quando falta faz suspirar

Falta alma: um alguém para amar

16.5.05

Increscido

Um dia fui criança
Agia por puro instinto
Sabia por apenas ver
Quem poderia verter carinho

Dom de quem se sabe sensível

Uma entrega mortal
Que faz vida em cada ser a minha volta
Minha fragilidade certeira
Densa como um pilar ainda em construção

Imaginação é lugar indestrutível

O mundo acerca, nos cerca
Começamos a aprender o que devíamos desconhecer:
Selecionar pessoas
Nossa visão de nós mesmos define os outros

Procuramos nosso eu em cada um que se aproxima

O que nos vem é repulsa
Trabalho duro este de separar vidas
Com braços curtos e dedos frágeis
Quando seria bem melhor abraçar a todos

Convulsionarmo-nos em uma hiper dose de sentir

Apreender o outro
Olhar direto em seus olhos
Mirar-lhe a alma
Absorver sua imensurável verdade

Acreditar que amar é mais que toda esta armadura

Armada para privação
Deixar de sofrer um ato não vivido
É entristecer uma alegria incomeçada
Por simplesmente não ter deixado acontecer

Começamos a andar justo quando devíamos apenas engatinhar

Pra que alguém nos olhasse
Pegando com carinho e alento ao colo
Aquela criatura que se esforça para ser forte
Esticando a coluna para postar-se de pé

Nesta posição o coração fica exposto

Agora os braços fortes
Protegem dos perigos físicos
Pois querer sentir outro alguém
Não é palpável; é louvável

Entrega feita sem protetorados

Houve um tempo em que era fácil
Enganar que sabia o amor
Flexibilizava meus desejos
Niilista aos apelos do outro

Distanciava quem mais queria próximo

Adultifiquei-me e deixei de sentir o externo
Vesgo pela contemplação de mim mesmo
Fui ficando torto, absorto
Um ser vivo quase morto

Quando tive a decência de chorar

Deitei no chão sujo e disforme da minha onipresença
Ralei meu corpo no encosto bêbado de minhas crenças falsas
Degolei meus pés que invertidos
Explodiam em dor uma cabeça repleta de agonias vis

De joelhos voltei a ser criança

Olhando aqueles olhos enxerguei esperança
Pedi seu colo e conquistei lembrança
No tocar de pele o encontro reconfortante
No alisar do rosto, minha vida: um instante

Percebi que me dar era tudo que queria

Ininteligível esta obsessão
De querer apenas felicidade
Quando a dor nem sempre é o sofrimento
As vezes, indispensável, à adiantada e irremediável vitória

Ganho meu ser a cada dia

Tem dias que sofro e agradeço
Em outros estou alegre e cresço
Através das horas aprendo e mereço
Em sua vida sou eu mesmo e reconheço

Ser sua criança é amar e não tem preço

13.5.05

Simples

As músicas tocam iguais
Delicadamente diferenciadas
Pelo meu pensamento que viaja
Percorrendo cada lembrança sua

Fim de estrada maravilhoso

Seus olhos que abrem suas portas
Sua boca que sopra brisa em meu fogo
E estas pernas que abrem clarões
De puro desejo e prazer

Convidam para nossa festa tribal

Onde dançamos nus
Um pelo outro
Um para o outro
Um no outro

Através de corpos que se amam

Carnalmente ditosos
Tudo agora é nada
Qualquer comparação é mal vinda
Pois estar em você é incomparável

Pena da pessoa que não sente

Este furor proveniente do amor
Esta luxúria que a efemeridade do tempo não leva
Beleza eterna que reside no carinho
Na vontade de ser seu

Completo e feliz quando poderia ser apenas eu

Divino completar você
Faz a existência rutilar
O corpo quente é água, suado
A alma em êxtase é choro

Jorrado, chorado, gozado

11.5.05

Lúdico

Que mentira maravilhosa esta
Desfeitos por dentro
Temos a empáfia de responder
Que estamos felizes

Porra nenhuma

Tudo é uma grande merda
Quando a nossa felicidade não é próxima
As canções e os cheiros de ruas conhecidas
Aproximam e torturam ao mesmo tempo

Mostram quão inalcançáveis nos mantemos

Desquero palavras doces
Frases de efeito
Placebos eficientes para uma mente conturbada
Sabe-se de imediato o motivo

Dói pra caralho

Nenhum palavrão me livra da tormenta doce
Deste turbilhão de passados presentes
Montando um futuro ausente
Desgraçadamente verdadeiro

A inevitável partida

Vem feita mula desenfreada
Aríete desgovernado e bruto
Derrubando o que se lhe opuser
Por puro capricho, falta do que fazer

Suas costas outra vez

Não fossem tão belas deixaria de olhar
E apóiam-se em nádegas redondas, firmes e atrevidas
Delimitadas por um corte diabolicamente traçado
Onde minhas mãos indecentes santificam

Pecado seria recusar

Todo este desejo que insular invade
Querendo compreender cada ato
Sentir ínfimas trepidações
Desta ventania desconcertante

Palavras da sua boca

São mais que gemidos e sussurros
São ordens
Acato a cada uma delas prazerosamente
Na velocidade que você imprime

Dirige este corpo que obedece a seus comandos

Deixe de lado esta modéstia, vestido e calcinha
Sente-se no meu colo e esqueça da vida
Lembre apenas que morreremos
E pulse vida em minha carne viva

Peça para eu ficar quieto

Enquanto me semeio em você
Umedecendo seus seios com a boca
Para que o coração não ferva
Provando você a você

Viu como é?

Saudade é foda
Nem estamos juntos
E monto seu corpo em sexo como se estivéssemos
Amo sua carne com a minha sem tocá-la

Desejo calcado na vontade

Quando longe compreendemos o análogo
Teoria dos contrários
Dos momentos ordinários
Por mais distante ou cansado, luto

Não fomos feitos pra ficarmos separados

Curiosamente, ao voltares, desalinho
Seu corpo lindo é secundário
Quero o conforto do seu sentimento
Dar-lhe o calor do meu carinho

Recostar a mente, agora calma, em seu peito ninho.

9.5.05

Paisagem

Nos dias mais belos
Tenho mais saudade
A sensação de desperdício
Aumenta a dor

Pode ser que não haja outro

Certamente haverá
O problema vai além
Saber que o próximo
Será totalmente desigual

Crescente só minha vontade

Convertida momentaneamente em angústia
Num querer contido
Deste coração comprimido
Que esbarra em externalidades

Toda vez que se expande

Mas preciso dar-lhe seu real tamanho
Meu peito não é casa para ele
É prisão, senzala
Com direito a tronco e açoite

A procura do navio negreiro chamado coragem

Que me trafique transoceânico
Sangrando mares de hipocrisia
Singrando feliz cada onda sua
Que traga a luz do nosso dia

Nossas peles juntas naquela praia

De areia alva e fina
Pisada e mesmo assim acolhedora
Chamando nossos corpos
Ao merecido descanso

Repouso de seu desejo

Distante este paraíso bíblico
Que peco por não manter
Coisas simples que me sobrevêm
Desnecessário dificultar

Esculpindo agora sua materialidade

Seu vibrar guia meu martelo
Que lhe sabe de cor
Emprestando um tom vermelho sangue
Proposital e mortificante

Fazê-la jorrar

Sinta-se estátua e movimente
Seja a seca e chova
Almeje terminar e comece
Compreenda-se viva e morra

Com vontade de amar

6.5.05

Tomo

Parado aos olhos de viajantes apressados
Aprecio o céu sobre meus pensamentos
Físico, denso, imponente
Debaixo de todo este peso não há opção

Estatifico-me e continuo impotente

Engano achar que não há potencial
Por dentro eu fervo
Quero sacudir as torrentes que jorram vontades
Nesta cabeça que agora pensa

Criando uma reta que por definição nos aproxime

Difícil é descobrir os mais íntimos
Dentre tantos próximos pontos
Pois você é só contato
Pelo tato acho que me perco

Sem dúvidas encontrei um labirinto

Agora enxergo opções
Minha mente gela
Clama por um sossego inerte
Residente em uma certeza infame qualquer

É tudo desculpa para seguir parado

Esta dormência realmente embriaga
A possibilidade de não fazer é tentadora
Sentir poder nos consome
E querer não fazer é perigoso

A ignorância se aproxima quando temos muitas certezas

Aquele fardo ainda me circunda
Sei das reais intenções
Mas desconverso a respeito do presente
Conheço sua face como se me olhasse

A cada dia te pergunto quem sou

Não é minha imagem que procuro
Minha possibilidade de ser seguro
Busco aquele que desconheço
Este que incansável lhe ofereço

Que só você enxerga

Pateticamente tento dominar algo seu
Que embora meu, não me pertence
Sou o que você quer de mim
Feliz por ser assim

Teimosia explicita esta de mudar-me

Mania de acreditar que não podemos
Que quando podemos não devemos
Que quando devemos não queremos
E querendo não entendo

Como posso ser seu amor?

Eu é que quero que você seja o meu
Necessito amar você
Permanecer apaixonado, entregue, dado
Esquecendo deste seu direito

De me enxergar como a melhor coisa do mundo

Querendo, desejando, almejando
Babando por minha existência simples
Que simplifica seu viver
Acreditando que sou tudo o que quer

Da semente ao arvoredo pra perceber

A possibilidade de ser querido
A magnitude de ser escolhido
Beijado, abraçado, amado, lambido
De conter e estar contido

Num paraíso agorafóbico que limita por paredões de liberdade

Aquele céu agora desaba
Minha cabeça esta muito leve para deixar que eu corra
Destemo a chuva
Pois ela não é capaz de lavar minha candura

Doçura imensa em suas papilas sensíveis

Creio que sou mesmo sua criatura
Bem impagável, inalienável
Sou a prova de sua recusa
Pela impossibilidade de negar-se a si própria

Então me toma se lhe convém

Abre sua boca e me engole
Espalha minha presença e absorve
Sorri meu hálito e sorve
Dona da minha alegria

Perceba o eriçar de sua pele, pelo e alma

Agora os viajantes é que param
Atônitos, aflitos, antagônicos
Papéis se criam invertidos
Os antes protagonistas jazem expectadores

No melhor ato, de fato, nós

Todos fogem da tempestade epicentrica
Estremecendo a certeza de toda dúvida alheia
Quero erupções contínuas, criadoras
Que eternizem minha existência

Neste dilúvio único que é viver

5.5.05

Pesquisa, esclarecimentos e amor ou outra ordem qualquer

Gostaria de agradecer e muito. Ultimamente tenho sido visitado e agraciado pela presença, carinho, reconhecimento, elogios e toda espécie de bons sentimentos de várias pessoas e pretendo e quero acreditar que mereço todo este calor. Juro que farei por onde.

Gostaria de dizer também que ontem, como já aconteceu outras vezes e com certeza, acontecerá novamente, meu irmão, Canhoto, postou dois textos. Não tenho nada que me meter com o que cada um escreve. Viva a liberdade de escrita. Só queria salientar e deixar explicito o seguinte: discordo totalmente dos dois textos e sou totalmente torto e errado no que diz respeito a amar. Sofro, sinto dor, choro, entristeço, fico alegre e canto pela casa, fico puto e emburro a cara também. Amor não é paz porra nenhuma e se algum ser humano conseguiu a perfeição de permanecer em plena paz ele está morto e enterrado. Amar é viver plenamente, com todas as suas faces boas, ótimas, ruins e péssimas. Por isso o amor é indefinível

Juro que tentei fugir desta pesquisa. Mas fui presenteado por duas pessoas que eu realmente adoro. Os convites saltaram aos meus olhos no mesmo dia, mas para não ser injusto, vou por ordem cronológica.

Sandra, acho que não preciso dizer nada. Adoro você mesmo. Minha revisora predileta. Beijo intenso. Aquela frase ao meu respeito na sua resposta da pesquisa não me sai da cabeça. Ainda chego lá.

Bruxinha, você é a madrinha deste blog. Adoro você demais. E existe um modo simples de saber de mim. Pessoas em que confio e admiro como você precisam apenas perguntar. Beijo e um cheiro minha Bruxa

Podem ter certeza, ainda em relação ao amor, ele pode ser de diversas formas. Saibam que fico radiante quando um texto meu cai como uma luva para alguém. Cada comentário é um presente e não tenho o menor medo em dizer e sentir que amo cada um de vocês. Beijos. Minha vontade era dar abraço apertado em cada um.

Amanhã eu posto mais um texto torto de amor.



Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

Não li o Fahrenheit 451, mas gostaria e serei um livro sobre o nascimento de uma criança e as maravilhosas mudanças que este acontecimento traz para os pais quando eles renascem para esta nova vida. Prometi a mim mesmo que farei este livro e publicarei para dar a minha filha em sua cerimônia de alfabetização. Nem que saia apenas um exemplar, este será dela, por causa dela.

Já alguma vez ficaste apanhadinho por um personagem de ficção?

Eu admiro muito a construção psicológica de um personagem chamado Wolverine. O convívio conflitante de um ser fisicamente poderoso, quase indestrutível, que pouco sabe sobre si próprio além das dores de seu presente tumultuado. E, mesmo assim, consegue ser violentamente sutil e justo consigo próprio e tem um refinado senso de amizade. Alguns podem achar que histórias em quadrinhos estão à margem da literatura formal, mas a enormidade de imagens literárias e de conceitos ali empregados é fantástica.

Qual foi o último livro que compraste?

Como aprender Java em 21 dias. Faz quase dois anos que comprei e não passei da primeira semana.

Que livro estás a ler?

Constituição da República Federativa do Brasil. Vou passar num concurso público e ela faz parte da matéria. Sugiro e recomendo a sua leitura a todos. Apesar do linguajar desagradável e enfadonho é certeza de boas risadas e faz nossa carne tremer de raiva quando percebemos que potencialmente equilibramos poder e apatia cívica

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
A casa dos budas ditosos
Diário de um mago
Odisséia
Musashi
Como aprender Java em 21 dias (tenho que acabar de ler este livro!!)

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e por quê?

Para a Naiara, por que escreve muito bem e mora em Niterói como eu.
Para a Eliane Alcântara, por que ela administra um manicômio virtual comigo
Para minha amiga , do Alma Nua, por ter uma vontade teimosa como a minha

2.5.05

Campal

Saio para o mundo
Disposto a destruir tudo
Pela força que foi concedida
Através do poder que descobri

Paro ao primeiro passo

Aprendi a enxergar esta cegueira
Paralisia advinda de um fluxo interminável
De vontades equivocantes
Que separam o amor do ódio

Equilibristas treinam sempre no baixo, pois caem também

Executar verbos prefixados em des é fácil proeza
O espírito quer conquistas
Mas despreza o desperdício da batalha
Prefere o toque aconchegante

Vitórias pela delicadeza

Respeito é o que lhe vem
Quando as pessoas não nos temem
Pretendo levantar a voz
Somente por ótimos motivos

Exteriorizar que te amo

Há capacidade para conseguir o máximo
Pois é o mínimo que almejo
Picadas por caminhos tortuosos são preferíveis
Para infectar-me com o vírus da resistência

Doença com nome e sobrenome: santa paciência

Que compõe das músicas, a mais bela
Montando sua presença ao acorde dos ventos
Transpirando seu cheiro a cada movimento
Na saudade que nunca dói

Meu acalanto, meu travesseiro, meu alento

Onde durmo minhas pressas cotidianas
Repousando meus torpores corriqueiros
Deixo que o medo me invada
Tornando minha existência temerária

Fazendo buscar a segurança do seu eu

Fragílimo em minhas bases mais profundas
Quero ser derrotado, perdido, agredido
Por este sentimento que só fica mais forte
Este maldito azar que só dá sorte

A cada sinal na mata que apago farejo você

Sigo seu rastro
Anseio casto
Estar em seus cachos
Erguendo meu mastro

Ao aguardo de sua brisa e vela

Que me guia, navega e leva
Desconhecidamente familiar
Direto para nenhum lugar
Exato onde quero ficar

Que me esqueçam por lá

Certeza saber sua pessoa assim
Sem referencias, influências
Invisível aos olhos da carne que pulsa
Expulsando seu lado mais lindo

Quando choras ao sentir que me ama

Fizemos um trato em silêncio
Para toda vida, um encanto
Quem faz trato com o tempo vence
Pois ele nos cobre; é um manto

Que venha mais uma batalha

Cortando fundo na carne, navalha
Fazendo espadas no aço, que malha
Quando saindo do peito estraçalha
Este peito frouxo, fornalha

Escaldada pelo indestrutível amor que sinto por você