Calço pedras nos pés
Já não me faço estradas como antes
Caminhos fáceis são quedas d’água
Quero algo duro como minha alma
Incontavelmente derrotada
Ainda assim impenetrável
Auspiciosamente delirante e intrépida
Dada, como prostitutas pela estrada
Cobrando pouco ou quase nada
Quer apenas ser usada, vista, tripudiada, fagocitada
Chega de desvios e descansos
Resguardar um ideal incauto, incredulável
Desperdício temporal irremediável
Sem retorno ou regresso de lugar nenhum
Ignorância esta eterna vigilância mórbida
Como quem guarda defuntos com a própria vida
Tanto valor para uma lacuna da natureza
Zelo por um nada em completude
Desrespeito pela própria juventude
Clame-se por uma introspecção humilde
Recolha seus pedaços de gente
Monte cada coisa em seu devido lugar
Apresente uma mão à outra
Diga a seus ouvidos que quem fala é a garganta
Prove a seu coração que quem manda é a cabeça
Pense na sua vida
Suas coisas, seus desejos
Seu passado é um presente
Ou seu futuro já é passado?
Ama-te como faz com o próximo
Que pode estar longe
Inalcançável, impalpável
Mesmo assim, de querer indevasso e intransferível
Visão paradisíaca dum inferno chamado perfeição
Acima de tudo somos o que nos resta
Tudo que temos
Que queremos
Quando não houver mais ninguém
Nem mesmo tempo
Seremos sós; nós com nós mesmos
Então se goste
Prove seu sabor e delicie-se
Consuma íntimo desejo e satisfaça-se
Seja alvo de sua vontade
Descubra que não é verdade
Que sozinho é justo como está
Pior, é tudo que, por desventurança, é
Tem tudo e tudo lhe falta
Um vazio aterrador que lhe enterra vivo, amargo
Nos falta o outro
Nosso amor
Nosso par
Que quando temos traz ar
Quando falta faz suspirar
Falta alma: um alguém para amar
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