9.5.05

Paisagem

Nos dias mais belos
Tenho mais saudade
A sensação de desperdício
Aumenta a dor

Pode ser que não haja outro

Certamente haverá
O problema vai além
Saber que o próximo
Será totalmente desigual

Crescente só minha vontade

Convertida momentaneamente em angústia
Num querer contido
Deste coração comprimido
Que esbarra em externalidades

Toda vez que se expande

Mas preciso dar-lhe seu real tamanho
Meu peito não é casa para ele
É prisão, senzala
Com direito a tronco e açoite

A procura do navio negreiro chamado coragem

Que me trafique transoceânico
Sangrando mares de hipocrisia
Singrando feliz cada onda sua
Que traga a luz do nosso dia

Nossas peles juntas naquela praia

De areia alva e fina
Pisada e mesmo assim acolhedora
Chamando nossos corpos
Ao merecido descanso

Repouso de seu desejo

Distante este paraíso bíblico
Que peco por não manter
Coisas simples que me sobrevêm
Desnecessário dificultar

Esculpindo agora sua materialidade

Seu vibrar guia meu martelo
Que lhe sabe de cor
Emprestando um tom vermelho sangue
Proposital e mortificante

Fazê-la jorrar

Sinta-se estátua e movimente
Seja a seca e chova
Almeje terminar e comece
Compreenda-se viva e morra

Com vontade de amar

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