6.5.05

Tomo

Parado aos olhos de viajantes apressados
Aprecio o céu sobre meus pensamentos
Físico, denso, imponente
Debaixo de todo este peso não há opção

Estatifico-me e continuo impotente

Engano achar que não há potencial
Por dentro eu fervo
Quero sacudir as torrentes que jorram vontades
Nesta cabeça que agora pensa

Criando uma reta que por definição nos aproxime

Difícil é descobrir os mais íntimos
Dentre tantos próximos pontos
Pois você é só contato
Pelo tato acho que me perco

Sem dúvidas encontrei um labirinto

Agora enxergo opções
Minha mente gela
Clama por um sossego inerte
Residente em uma certeza infame qualquer

É tudo desculpa para seguir parado

Esta dormência realmente embriaga
A possibilidade de não fazer é tentadora
Sentir poder nos consome
E querer não fazer é perigoso

A ignorância se aproxima quando temos muitas certezas

Aquele fardo ainda me circunda
Sei das reais intenções
Mas desconverso a respeito do presente
Conheço sua face como se me olhasse

A cada dia te pergunto quem sou

Não é minha imagem que procuro
Minha possibilidade de ser seguro
Busco aquele que desconheço
Este que incansável lhe ofereço

Que só você enxerga

Pateticamente tento dominar algo seu
Que embora meu, não me pertence
Sou o que você quer de mim
Feliz por ser assim

Teimosia explicita esta de mudar-me

Mania de acreditar que não podemos
Que quando podemos não devemos
Que quando devemos não queremos
E querendo não entendo

Como posso ser seu amor?

Eu é que quero que você seja o meu
Necessito amar você
Permanecer apaixonado, entregue, dado
Esquecendo deste seu direito

De me enxergar como a melhor coisa do mundo

Querendo, desejando, almejando
Babando por minha existência simples
Que simplifica seu viver
Acreditando que sou tudo o que quer

Da semente ao arvoredo pra perceber

A possibilidade de ser querido
A magnitude de ser escolhido
Beijado, abraçado, amado, lambido
De conter e estar contido

Num paraíso agorafóbico que limita por paredões de liberdade

Aquele céu agora desaba
Minha cabeça esta muito leve para deixar que eu corra
Destemo a chuva
Pois ela não é capaz de lavar minha candura

Doçura imensa em suas papilas sensíveis

Creio que sou mesmo sua criatura
Bem impagável, inalienável
Sou a prova de sua recusa
Pela impossibilidade de negar-se a si própria

Então me toma se lhe convém

Abre sua boca e me engole
Espalha minha presença e absorve
Sorri meu hálito e sorve
Dona da minha alegria

Perceba o eriçar de sua pele, pelo e alma

Agora os viajantes é que param
Atônitos, aflitos, antagônicos
Papéis se criam invertidos
Os antes protagonistas jazem expectadores

No melhor ato, de fato, nós

Todos fogem da tempestade epicentrica
Estremecendo a certeza de toda dúvida alheia
Quero erupções contínuas, criadoras
Que eternizem minha existência

Neste dilúvio único que é viver

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