17.11.05

Feita em verso

Não precisa permissão
Aquele que nasceu com a liberdade
Para que tanta confissão
Se portadora do convite da vontade

Deseje apenas e seja aquilo que sonha

Arrombe as portas que sequer existem
Penetre fundo como fio fino em carne tesa
Amole o desejo que lateja imenso
Inunde no mais profundo devaneio

Semeie sua existência em nossa ausência

Permita-se ser tudo que sonha
Plante cada dia do seu futuro
Neste presente que parece torto
Mas é o mais perfeito de seus dias

Seu agora é sua eternidade

Viva intensamente
Pois não o terá logo à frente
Nunca mais em sua frágil existência
Será tão indestrutível quanto agora

Nem no mais completo dos teus virtuosos pensamentos

Transpire cada gota de suor
Por algo que realmente possa fazer
Chore toda sua alegria em colos adorados
Pois a tristeza não foi feita para compartilhar

Aprenda que há coisas muito nossas

Que de tão tuas
Deixam-lhe nua
Tão minhas
Que em ti me inclua

Que sejamos aquilo que o porquê conclua

Sendo dúvida seremos sempre atraentes
Teremos em nosso seio o anseio do descobrimento
Em nosso leito o desalento atento dos que não param
Chegando enfim, num fim que nunca chega

Resta sermos contínuo movimento

Desenrolando histórias
Nem sempre narrativas
Juntando em palavras por vezes mortas
O calor intenso de brasas vivas

Colorindo de desejo a palidez da saudade

Invasora voraz e astuta
Consumidora de nossas horas
Causadora de tantas lutas
Senhora da maior das permutas

Doce o encontro do querer com poder

Verbos inocentemente separados ao nascerem
Aprendem e ensinam de forma natural
Que a bruteza da simplicidade humana
É estupenda e farta de intrínsecas qualidades

Impagável o esforço monumental de uma criança

Dando seu primeiro e radical passo
Decidindo seu destino tão prematuramente
Repare a violência deste gesto
Paradigmático ato insano de todos nós

Mesmo mergulhados em desconhecimento optamos abraça-lo

Para sermos cada vez mais fortes
Cada minuto mais poderosos
A cada passo mais senhores de nós mesmos
Sempre mais experientes

Ainda assim completamente perdidos

No infinito de possibilidades que nos tomam a reboque
Empurrando e sinalizando em qualquer direção
Fica difícil mudar o rumo
Quando postamo-nos indefesos em braços seguros

Força alheia nos contém, não traz segurança

Com pés ao chão e cabeça aos céus
Fica facílimo enxergar
Os rumos que minha visão permite
Os possíveis pontos onde devo parar

Reparar, respirar; continuar

Pois do interminável e constante desejo
Vem o ânimo que me enverga
Flexibilizando a não maleabilidade
Das certezas que se quebram

Diante do menor senão adiante

Insista em conseguir
Acredite que desistir é provável
Mas que ser derrotado é muito mais louvável
Que a fuga de si mesmo

Escreva seus próprios versos

E quando for verso de outro alguém
Acredite que não é por bondade
Foi você quem mereceu as palavras
Não havendo nenhuma caridade

Apenas dei forma ao adorar de verdade

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