Não precisa permissão
Aquele que nasceu com a liberdade
Para que tanta confissão
Se portadora do convite da vontade
Deseje apenas e seja aquilo que sonha
Arrombe as portas que sequer existem
Penetre fundo como fio fino em carne tesa
Amole o desejo que lateja imenso
Inunde no mais profundo devaneio
Semeie sua existência em nossa ausência
Permita-se ser tudo que sonha
Plante cada dia do seu futuro
Neste presente que parece torto
Mas é o mais perfeito de seus dias
Seu agora é sua eternidade
Viva intensamente
Pois não o terá logo à frente
Nunca mais em sua frágil existência
Será tão indestrutível quanto agora
Nem no mais completo dos teus virtuosos pensamentos
Transpire cada gota de suor
Por algo que realmente possa fazer
Chore toda sua alegria em colos adorados
Pois a tristeza não foi feita para compartilhar
Aprenda que há coisas muito nossas
Que de tão tuas
Deixam-lhe nua
Tão minhas
Que em ti me inclua
Que sejamos aquilo que o porquê conclua
Sendo dúvida seremos sempre atraentes
Teremos em nosso seio o anseio do descobrimento
Em nosso leito o desalento atento dos que não param
Chegando enfim, num fim que nunca chega
Resta sermos contínuo movimento
Desenrolando histórias
Nem sempre narrativas
Juntando em palavras por vezes mortas
O calor intenso de brasas vivas
Colorindo de desejo a palidez da saudade
Invasora voraz e astuta
Consumidora de nossas horas
Causadora de tantas lutas
Senhora da maior das permutas
Doce o encontro do querer com poder
Verbos inocentemente separados ao nascerem
Aprendem e ensinam de forma natural
Que a bruteza da simplicidade humana
É estupenda e farta de intrínsecas qualidades
Impagável o esforço monumental de uma criança
Dando seu primeiro e radical passo
Decidindo seu destino tão prematuramente
Repare a violência deste gesto
Paradigmático ato insano de todos nós
Mesmo mergulhados em desconhecimento optamos abraça-lo
Para sermos cada vez mais fortes
Cada minuto mais poderosos
A cada passo mais senhores de nós mesmos
Sempre mais experientes
Ainda assim completamente perdidos
No infinito de possibilidades que nos tomam a reboque
Empurrando e sinalizando em qualquer direção
Fica difícil mudar o rumo
Quando postamo-nos indefesos em braços seguros
Força alheia nos contém, não traz segurança
Com pés ao chão e cabeça aos céus
Fica facílimo enxergar
Os rumos que minha visão permite
Os possíveis pontos onde devo parar
Reparar, respirar; continuar
Pois do interminável e constante desejo
Vem o ânimo que me enverga
Flexibilizando a não maleabilidade
Das certezas que se quebram
Diante do menor senão adiante
Insista em conseguir
Acredite que desistir é provável
Mas que ser derrotado é muito mais louvável
Que a fuga de si mesmo
Escreva seus próprios versos
E quando for verso de outro alguém
Acredite que não é por bondade
Foi você quem mereceu as palavras
Não havendo nenhuma caridade
Apenas dei forma ao adorar de verdade
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