10.7.06

Sinceramente

O que fica da saudade é vento
Da vontade ausente; lamento
Cansado de tanto fazer nada eu calo e sento
Exausto de rimas pobres, simplesmente não me agüento

Arrebento em sons que não sei escutar

Choro cada alegria como se única fosse
Verdadeiramente são
Despeço-me do marasmo da falta de rotina
Entregando-me a insatisfação por estar sempre satisfeito

Refaço-me naquilo que não perdura

A simples falta remete àquilo que mais preciso
Mirando o esmo infinito da certeza
Acerto lugares que são ausentes
Na presença que monto fora do que existo

Desconexo, tendo a pender pelo sumiço

Na fumaça espessa da bruma que se arrima
Sinto perto a distancia que se apruma
Ferramentas pesam em minha bolsa vida
Nasço novo de forma desprovida

Onde cada passo é uma torre que se ergue

Fica quase intransponível meu passado
Lacrado num tempo que só pode ser dele
Dono dum poder que não se aliena
Próprio da índole que sempre o condena

Imutável e apaixonante como a piada do novo dia

Todo dia a cada dia e sempre
Tão belo quanto único
Tão singular quanto fugaz
Completamente efêmero se desfaz

Levando consigo a perfeição de ser incopiável

Se fossem eternos trariam torpor
A beleza imutável traz a certeza da indiferença
Quando acaba a possibilidade de novidade
Esvai-se a riqueza da surpresa

Fica a mesmice da ignorância

Pois a pretensão daquele que se antecipa
Mumifica o movimento dos que caminham
Ignorar as mudanças do intangível
É petrificar a mobilidade do sentimento

Não se aprisiona o que não se lhe pertence

Viva para estar pronto a perder-se
Encontrando-se em cada nova dação
Pratique a arte de dar o que precisa
Em troca de receber o que não se tem

Dói muito mais o fardo do tudo que a leveza do nada

Somos recipientes de nossos desejos
Dimensionados para experimentar, aprender e trocar
Percebamos enfim, mas não no fim
Que devemos compartilhar com o ambiente

Que os sentidos são um ecossistema vasto

Enxerga a ti mesmo no outro e serás em todos
Estenda seu ser aos que são em sua volta e eternize
Embrenhe-se nas almas boas e ruins a sua volta
Saiba deixar-se em umas e sair das outras

Puerilmente viva; auspiciosamente

Seja oportuno e não oportunista
Encare a sua possibilidade como algo que deve ser conquistado
Quando não puder ser completamente certo
Entenda-se justo

Faça com que seja entendido por todos

Estando assim em lugar comum
Lapide a mesmice com a diferença
Gere dúvida em cada vida que lhe toca
Soerga nelas a certeza de sua presença

Seja em tudo, sempre: uma crença

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