O que fica da saudade é vento
Da vontade ausente; lamento
Cansado de tanto fazer nada eu calo e sento
Exausto de rimas pobres, simplesmente não me agüento
Arrebento em sons que não sei escutar
Choro cada alegria como se única fosse
Verdadeiramente são
Despeço-me do marasmo da falta de rotina
Entregando-me a insatisfação por estar sempre satisfeito
Refaço-me naquilo que não perdura
A simples falta remete àquilo que mais preciso
Mirando o esmo infinito da certeza
Acerto lugares que são ausentes
Na presença que monto fora do que existo
Desconexo, tendo a pender pelo sumiço
Na fumaça espessa da bruma que se arrima
Sinto perto a distancia que se apruma
Ferramentas pesam em minha bolsa vida
Nasço novo de forma desprovida
Onde cada passo é uma torre que se ergue
Fica quase intransponível meu passado
Lacrado num tempo que só pode ser dele
Dono dum poder que não se aliena
Próprio da índole que sempre o condena
Imutável e apaixonante como a piada do novo dia
Todo dia a cada dia e sempre
Tão belo quanto único
Tão singular quanto fugaz
Completamente efêmero se desfaz
Levando consigo a perfeição de ser incopiável
Se fossem eternos trariam torpor
A beleza imutável traz a certeza da indiferença
Quando acaba a possibilidade de novidade
Esvai-se a riqueza da surpresa
Fica a mesmice da ignorância
Pois a pretensão daquele que se antecipa
Mumifica o movimento dos que caminham
Ignorar as mudanças do intangível
É petrificar a mobilidade do sentimento
Não se aprisiona o que não se lhe pertence
Viva para estar pronto a perder-se
Encontrando-se em cada nova dação
Pratique a arte de dar o que precisa
Em troca de receber o que não se tem
Dói muito mais o fardo do tudo que a leveza do nada
Somos recipientes de nossos desejos
Dimensionados para experimentar, aprender e trocar
Percebamos enfim, mas não no fim
Que devemos compartilhar com o ambiente
Que os sentidos são um ecossistema vasto
Enxerga a ti mesmo no outro e serás em todos
Estenda seu ser aos que são em sua volta e eternize
Embrenhe-se nas almas boas e ruins a sua volta
Saiba deixar-se em umas e sair das outras
Puerilmente viva; auspiciosamente
Seja oportuno e não oportunista
Encare a sua possibilidade como algo que deve ser conquistado
Quando não puder ser completamente certo
Entenda-se justo
Faça com que seja entendido por todos
Estando assim em lugar comum
Lapide a mesmice com a diferença
Gere dúvida em cada vida que lhe toca
Soerga nelas a certeza de sua presença
Seja em tudo, sempre: uma crença
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