5.9.05

Desvio

Por vezes preciso de a música triste
Que revele meu estado de espírito
Que traga a tona aquela dor que faz tanta falta
Depurando a vontade que se esconde

Sob as vestes da comodidade incômoda

Que incomoda pela mesmice
Que deturpa pela babaquice
De se achar que ter pena de nós próprios
É atalho para sermos salvos de nós mesmos

Grandiosa putaria que fazemos

Prostituindo nossa imaculada felicidade
Em troca de momentos vis e toscos
Personificados em corpos sujos
Que nos invadem com aqueles toques assépticos

Prefiro mãos impregnadas de desejo, de verdade

Quero o suor do esforço
Daquele que lutou para me conquistar
Quero o cheiro de corpo cansado
O gosto do gozo alcançado

A exaustão maravilhosa dos que se apaixonam

Meretriz de alto nível a auto piedade
Chega travestida em mansidão
Cheirando a paraíso
Quente e úmida como o inferno

Assando a pele e queimando o juízo

Envolve como o exímio dançarino
Que ao levantar seu peso do solo
Carrega você para nuvens
Deixando-nos a mercê de exterior desejo

Trocando obscenamente nossa liberdade

Por vontades podres
Usa um corpo que não é dele como quer
Posicionado como dono da situação, pois
Sinalizando para um fim antecipado

Que nós mesmos procuramos

Quando desistimos de tomar a vida sob controle
Achando que o mundo seria bom e gentil
Esquecendo que ele compete conosco
Que quer se sobrepor a nossa existência

Imperioso ser forte pra caralho

Foda-se se não te acompanharam
Se a velocidade do seu cruzeiro é demais para os demais
Se o espaço que você ocupa é imensidão
Se seu jeito não é tão dócil

Se de suposições vivem os que te rodeiam

Só não pare de continuar por causa disso
Lute com toda força e inteligência
Detone cada fraco pensamento que lhe sobrevier
Aniquile qualquer pedido de piedade interior

Algoz é aquele que nos dá chance

Ficamos preguiçosos, ridículos: odiosos
Tornamo-nos lesmas que rastejam
Quando sabemos voar e caçar
Deixamos o rastro inocente das presas

Quando deveríamos terminantemente predar

Sejamos justos quando derrotados
Que choremos, que odiemos
Mas com total franqueza
Pois fraqueza é esconder-se do inevitável

Passividade é medo em forma bruta, inerte, ilesa

Lapide este sentimento esfuziante
Que prepara o corpo para a fuga
Prevendo o perigo onde não se enxerga
Pondo fim ao que nem começa

Use-se a seu favor

Encare a morte com sua sorte
Esbraveje, lute, sofra
Mire seu inimigo e corra
Diretamente de encontro a ele

Faça desta encruzilhada uma enorme trombada

Ruidosa, enorme, ruinosa
Alguém ira perder neste embate
Se for você melhor: aprenda
Se for alguém, sem dó: ensine

Nunca tome atitudes desmotivadas

Pare de desperdiçar tempo
Com coisas que você nem sabe se quer
Ele não se mede pelo que se usou
Mas justamente pelo que não mais se tem

Seu faltar é medida de seu desperdício

Seja urgente, direto e preciso
Forte, inteligente e conciso
Mire a alma das coisas
Pois ao alcançá-la

O corpo já terá sucumbido

Trace sua meta com calma
Pense em seus movimentos
Sossegado, tranqüilo
Siga sua rota firmemente

Só permita a você ser seu desvio

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