29.12.04

Batismo

Religiões sempre discutiram as mortes em massa e sempre deram nomes diferentes para estas tragédias coletivas. Em umas chama-se karma, em outras, resgate e no fim, a idéia principal é a de que, particular ou coletivamente, as almas das pessoas ou seus espíritos, antes de encarnarem na condição de seres mortais, definiram que morreriam daquele modo. Uma forma de elevação pelo próprio sofrimento material.
Sendo coisas distintas, a alma ou essência e corpo, por que um tem que pagar pelo outro? E por que em todas as religiões só se chega à purificação ou perfeição através da dor, do erro e do sofrimento? Que cultura é essa de abstinência do prazer em troca de uma vida correta, bonita e feliz? Como se fosse sujo, errado e mal aprender pelo acerto e ter prazer nas e pelas coisas que nos tornam melhores perante nós e aos outros. Como se todo grande líder tivesse que ser no fim das contas, um coitado que só fez sofrer e que invariavelmente morre de forma trágica e dolorosa, desestimulando o seguimento de sua ideologia e tornando sua filosofia apavorante, pois o destino do séqüito será morrer assustadoramente. É o preço que se paga para obter a tão sonhada perfeição.
E as pessoas que morreram pelas águas das tsunami na Tailândia e adjacências queriam mesmo purificação pela dor? Já estavam no paraíso, curtindo suas merecidas férias. E os habitantes locais? Pagaram o preço por já terem nascido no paraíso? Quantas delas se conheciam? Quantas eram laicas ou religiosas? E os peixes e animais marinhos? Também faziam parte de uma seita animal pela busca da baleia Buda sagrada do reino abissal?
Não. Morreram pela força devastadora, incontestável e colossal da natureza. Quieta e tranqüila que num simples desabrochar, que por se espreguiçar apenas, pôs suas coisas no lugar e moveu o oceano, por seis mil quilômetros de extensão, assim, por extenso, para mostrar o tamanho de seu alcance. Nunca haverá escalas que meçam a natureza e infelizmente, seu rastro, desta vez, foi de pavor destruição e morte.
A natureza, das tsunamis, maremotos, terremotos, vulcões, tufões e tempestades não têm religião, não baixa cabeça para qualquer deus e se olharmos para nós mesmos veremos que ela é perfeita.
Lugares propensos a aparições da natureza deveriam ter planos de contenção de catástrofes naturais a serem seguidos à risca. Havaí, Japão, Itália Estados Unidos e outros países assolados por estes acontecimentos, deveriam preocupar-se menos com o destino político e religioso e aterem-se mais aos passos largos da natureza que são mais concretos que o destino e tão certos quanto a morte.

Paz na Terra. E que nós, seres humanos, aprendamos que simplesmente somos parte dela

Nenhum comentário: