Espero alguém que finalmente chegue
Atravesso horas que gostaria que terminassem
Queria dias que em noite acabassem
Sem se arrastar pela madrugada replicante
Que nasce, floresce e renasce a cada dia
Gostaria de poder ligar para certo telefone
Escutar um alo despreocupado e sossegado
Com tempo livre e liberado
Sem espios ou olhares preocupados
Poder dizer: estou indo te buscar
Passear pela calçada de uma orla qualquer
De mãos dadas, dedos entrelaçados e calmos
Corpos que se mostram a quem quiser ver
Sem o tremular nervoso de quem não deve ser visto
Escancarar o que se sente livremente
Poder tomar um banho demorado
Para matar o tempo gostoso da espera
Manter-me sempre lindo e limpo
Por dentro, internamente; eternamente
Pois não sei quando irá chegar
Escolher aquela roupa que me deu
O perfume que seu olfato adora
Temperar a pele com o suor que sua língua aprecia
Esquentar o corpo para deixar a pele macia
Acariciar-te nua com o peso de meu corpo
Que não cansa de querer seu desejo
Cego à sua beleza
Justo por isso incansável
Em percorrer seus detalhes com meus dedos
Na proeza de saber cada seu detalhe
Configurando sua visão celestial e plena
Invasora sutil e permitida de minha esperança
Contraditória coma a derrota da vitória
Triste como a alegria fútil da volátil glória
De sermos juntos e sem constancia
Aspiro por sua permanência
Que não implica ser ininterrupta
Mas que carece em ser perene
Resistente ao mero até amanhã
Impávida aos domingos de lua que me atormentam a alma
Levando meu sossego num simples sopro
No brandir das folhas ao sabor do vento
Caindo ao menor esforço
Como se meus esforços fossem brotos
Tortos, rotos; incapazes perante seu outono
Que acinzenta minhas primaveras inférteis
Carente das águas neste verão seco
Desembocando num rio de inverno congelado
Atrofiado pelo gelo pirotécnico de meus alardes
Mudos, surdos, cegos, mas não covardes
Ainda ando por passos firmes
Joelhos justos e pernas fortes
Toco ao chão com aqueles por muitas vezes
A cabeça mira nuvens, condensando sorte
Esperando a bonança graciosa que me pertence
Corpo molhado, tempo ilhado
A terra faz-se lama e procura meus poros
Entra por fendas e feridas de pés descalços
Encontrando o calor na carne exposta das minhas frieiras
Portais sinalizadores do tempo de estrada
Tenho resistência para muito mais
Na mochila chamada paciência
Há uma carga indispensável
Aquilo que separa teimosia da perseverança
Toneladas essenciais de entendimento
Estive um dia do outro lado
Fui açoitado como escravo vadio
Minhas costas, largas e fortes
Devoradas pela sanha de um senhor impiedoso
O medo neutraliza a capacidade de sonhar
Escurece o brilho das pequenas e importantes coisas
Leva as asas que nos fazem voltar ao chão
E como balões vagamos sem destino, sem tino; desatino
Entregamos a vida ao reles contento do destino
Variável e desagradável em sua inutilidade
Fiz valer meu livre arbítrio
Decidi que suportaria errar
Compreendi que gostaria e seria humilde ao acertar
Polindo o orgulho com a delicadeza dos restauradores
Trazendo cor e forma a arte de ser meu próprio dono
Ser obra de minha matéria
Insumo de meu básico
História de minha lembrança
Saudade do sentir amor
Ser palavra de sua rima
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