5.7.05

Expurgo

Quando o silêncio invadir sua essência
Expulsa-o como se faz com as coisas desnecessárias
As ruins, embora desta natureza, acontecem
E demônios, devemos tê-los

Sob domínio e eterna vigilância

Que fiquem os outros surdos
Frente às súplicas e pedidos de perdão
Quero prover o mundo com minhas bondades
Ser excessivamente mal com minhas maldades

Transformar todas as mentiras verdadeiras em falsa inverdade

Possua seu opressor pelo âmago
Invada seu estomago moral
Faça-o passar mal, marear, vomitar
Torne-se o mais repugnante possível

Para que ele odeie olhar na sua face linda

Sentindo pregos penetrando seus ouvidos
Urrando surdamente quando perceber
O sussurro de seu nome santo
Soletrado pela boca imaculada de uma criança

Alienada do valor e força que tem a palavra

Exume do seu manto chamado pele
O ranço vil e podre do tempo perdido
Deixe para trás o passado que já não se desfaz
Perfumado da carnificina que se realizou

Morremos sempre a cada presente que se desnuda

Quantos defuntos de nós próprios deixamos sem farol
Que lhes iluminasse o tortuoso caminho de regresso
Rumo a lugar algum, incerto, incesto
Enamorado com a intima filha

Do caso entre vida e Tempo nasce a morte

É nossa vivência que dispomos quando erramos
Tolos e incompreensíveis
Extirpamos a única coisa que temos
Querendo justificar uma crença infame

Achando que o amor nos salvará

Falácia escandalosa
As premissas se unem e nos levam a uma ação
Praticada por nós, sujeitos
Metendo os pés pelo coração

Prevalecentes do nada pela razão

Tudo é puro detrimento, ilusão, divertimento
Dor consome sorridente
Cresce como fogo em vento
Não há o menor contento

Mas existe a compensação inútil de um momento

Sabemos, temos certeza: queremos muito mais
Merecemos a eternidade que a volatilidade nos traz
Incapazes de enxergar o próximo passo
Aprazamo-nos com migalhas

Tornamo-nos magros, fracos, derrotados

O outro, diabo, parece rir de nossa cara
Ali, desesperados, despreparados, desalmados, ajoelhados
Regurgitamos farpas de sutileza
Tentando mostrar uma beleza sumida a muito

Endeusando coisa que já fomos

Deveríamos nesta hora abrupta
Parar, pensar e parar
Se aspiramos o forte, belo e potente
Não seremos objetos do amar

Quando refeitos no reverso de nosso buscar

Insistimos, vadios e doentes em transferir
Imputamos ao outro aquilo que sonhamos e somos
Por pura falta de coragem
Pela gigantesca e reprovável insistente covardia

Pela vergonha em ser simplesmente melhor

Sejamos aquele que suscita desejo
Responsáveis pela felicidade alheia
Epicentro vivo e mutante dos delírios externos
Confiantes, confiáveis e apaixonantes

Donos da própria vida, imbuídos de vontade

Auto-estima estratosférica
Confiança inabalável
Atitude incontestável
Sentimento imensurável

Leveza de um soprar de velas

Que escurece o ambiente quando se apagam
Igualando todos os presentes
Na escuridão da mesmice somos idênticos
Nem a diferença é diferente

Graças ao amor cego, verdadeiro, que apenas sente

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