28.6.05

Pedinte

Por favor, não me escoltem ainda
Preciso e quero terminar muitas coisas
Devo e posso começar infinitas algumas
Necessito permanecer na imperfeição da minha vida

Para que eu viva tentando acertar sempre

Redesmontando velhas e novas indescobertas
Fazendo valer a pena cada segundo que se ganha
Quando não perdemos tempo planejando sonhos
Gastando momentos grandiosos construindo objetivos

Sendo aquilo que não temos e ainda assim dispormos dele

Absorver toda a intensidade perdida
Nas coisas que se pode conter
Conhecer a noção de limite
Residente em cada impossível que se apresenta

Parar o tudo e começar a fazer o nada

Este contrário vazio incontável e imensurável
Oposto do que o existente pode ser
Intrigantemente denotativo de ausência
Faz-se insuportável quando é tudo que se tem

Deixem que eu erre mais e incessantemente

Que seja desculpa pra minha permanência
Motivo da falta de ausência
Se olharmos com eficiência
Repararemos que difere e muito de presença

Relação estreita com o verbo querer

Estar tátil, concreto é muito simples, direto
Qualidade inerente também ao objeto
Inanimado e sem vontade
Escravo de anseio alheio

Entregue a todo tolo ato de quantidade

Desprezo ser mais um
Sou o querer ser eu
Único e indescritível
Simples e não simplório; indefinível

Manter-me o seu que meu eu lhe deu

Amar a incogitabilidade de estar distante
Gostar do que sinto quando lhe sinto a cada instante
Normal, comum e natural
Porém indispensável, insubstituível e importante

Personificar o seu daqui por diante

Mendigo da própria vida atemporal e aviltante
Peço esmolas em esquinas errantes, berrantes, inconstantes
Desprovidas do encontro de duas ruas
Que se cruzam feito almas nuas, cruas, ofegantes

Escandalosamente desavergonhadas e delirantes

Pois minha carne não agrada
Minhas roupas desmentem a intenção residente
O coração que apaixonado chama
É o mesmo que chora apavorado

Sobre o colchão de mágoas e um frio cortante de estrelas

Brilhantes, cintilantes, instigantes
Não passam disso
Espelhos falaciosos de uma luz velha e distante
Como sua imagem refletida no vácuo de minha saudade

Lembrança intrapessoal de universos inconquistáveis

Farrapo maltrapilho envolvido em trapos
Cabelo desgrenhado, sujo, ensebado
Pés no asfalto olhar no alto
Unhas grades por único motivo

Extensões de mim buscando você

Qualquer coisa que aproxime
Sombras doces que iluminem
Dois olhos perdulários e inquietos
Estaticamente ágeis a ver

Mais um milagre acontecer

Recebo mais um milagre
Retiro as mãos dos bolsos da esperança
Acordo outro dia em minha boca
Pego carona na carruagem mágica da verdade

O desperdício é vicio do excesso

Quero que tudo em minha vida exacerbe
Frutificando abundantemente
Para que eu saiba doar de bom grado
Toda vez que a vida desfavorecer

Lembrar do tempo em que estive sentado

Olhando para cima
Mãos espalmadas
Suplicando humilde a possibilidade da sua vontade
De mais um dia ao menos

Nem que fosse pra sentir saudade

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