Por favor, não me escoltem ainda
Preciso e quero terminar muitas coisas
Devo e posso começar infinitas algumas
Necessito permanecer na imperfeição da minha vida
Para que eu viva tentando acertar sempre
Redesmontando velhas e novas indescobertas
Fazendo valer a pena cada segundo que se ganha
Quando não perdemos tempo planejando sonhos
Gastando momentos grandiosos construindo objetivos
Sendo aquilo que não temos e ainda assim dispormos dele
Absorver toda a intensidade perdida
Nas coisas que se pode conter
Conhecer a noção de limite
Residente em cada impossível que se apresenta
Parar o tudo e começar a fazer o nada
Este contrário vazio incontável e imensurável
Oposto do que o existente pode ser
Intrigantemente denotativo de ausência
Faz-se insuportável quando é tudo que se tem
Deixem que eu erre mais e incessantemente
Que seja desculpa pra minha permanência
Motivo da falta de ausência
Se olharmos com eficiência
Repararemos que difere e muito de presença
Relação estreita com o verbo querer
Estar tátil, concreto é muito simples, direto
Qualidade inerente também ao objeto
Inanimado e sem vontade
Escravo de anseio alheio
Entregue a todo tolo ato de quantidade
Desprezo ser mais um
Sou o querer ser eu
Único e indescritível
Simples e não simplório; indefinível
Manter-me o seu que meu eu lhe deu
Amar a incogitabilidade de estar distante
Gostar do que sinto quando lhe sinto a cada instante
Normal, comum e natural
Porém indispensável, insubstituível e importante
Personificar o seu daqui por diante
Mendigo da própria vida atemporal e aviltante
Peço esmolas em esquinas errantes, berrantes, inconstantes
Desprovidas do encontro de duas ruas
Que se cruzam feito almas nuas, cruas, ofegantes
Escandalosamente desavergonhadas e delirantes
Pois minha carne não agrada
Minhas roupas desmentem a intenção residente
O coração que apaixonado chama
É o mesmo que chora apavorado
Sobre o colchão de mágoas e um frio cortante de estrelas
Brilhantes, cintilantes, instigantes
Não passam disso
Espelhos falaciosos de uma luz velha e distante
Como sua imagem refletida no vácuo de minha saudade
Lembrança intrapessoal de universos inconquistáveis
Farrapo maltrapilho envolvido em trapos
Cabelo desgrenhado, sujo, ensebado
Pés no asfalto olhar no alto
Unhas grades por único motivo
Extensões de mim buscando você
Qualquer coisa que aproxime
Sombras doces que iluminem
Dois olhos perdulários e inquietos
Estaticamente ágeis a ver
Mais um milagre acontecer
Recebo mais um milagre
Retiro as mãos dos bolsos da esperança
Acordo outro dia em minha boca
Pego carona na carruagem mágica da verdade
O desperdício é vicio do excesso
Quero que tudo em minha vida exacerbe
Frutificando abundantemente
Para que eu saiba doar de bom grado
Toda vez que a vida desfavorecer
Lembrar do tempo em que estive sentado
Olhando para cima
Mãos espalmadas
Suplicando humilde a possibilidade da sua vontade
De mais um dia ao menos
Nem que fosse pra sentir saudade
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