20.6.05

Olhando

O céu magnífico
Diante da minha capacidade de ser ínfimo
Contemplo a beleza do saber ser simples
Complexa maestria entre brancos, terras e tons de azul

Extasiado frente tanta perfeição

Perco tempo na maioria dele
Preocupado em estar mais
Perecer melhor
Mostrar-me sempre perceptível e sedutor

Quando deveria apenas ser

Tantos exemplos das boas atitudes
Inúmeras amostras de como não errar
Passeios completos de idas e voltas
Certeza certeira de não precisar voltar

Tudo ao alcance da sensibilidade

Realmente maravilhoso
Quando atentamos para o outro
Descoberta genial perceber
Que os outros nos ouvem atenciosamente

Se vamos além do nosso próprio universo

Tomando quem nos cerca como um complemento
Querendo dele o que nos falta
Por vezes o que, talvez, nunca teremos
Algo que não nos faz parte

Justo por esta natureza não invejaremos

Diga o quanto é admirável
Quanto bem aquilo lhe trás
Como a presença alheia satisfaz
Perfazendo o mundo que desejamos

Bem ali, ou aqui, logo após nossa ausência de ignorância

Peito exposto, amor aberto
Não queira longe; seja perto
Ente multiplicador de carinho
Colha sementes de fruto certo

Mostre-se dentro, porem liberto

Contemple o seu que te amanhece
Note a grandiosidade de cada detalhe
Particularidades de cada alma
Vontades de toda gente

Embutidas em corpos que se confundem

Propositalmente semelhantes
Para que se chegue bem mais perto
Pois só assim é possível distinguir
Os amigos, os amantes e os afetos

Desta distancia nada é como antes

A mesmice agora é diferente
Aquele que lhe é único: seu presente
Sentirá que tudo é mero nada
Quando este novo ser lhe for ausente

Anoitece nubladamente a cada despedida

Não há luas que reflitam resquícios daquele sol
Apenas o azul nigérrimo e absoluto
Cegueira inversa que penetra; um vulto
Quietude escandalosa que abafa qualquer tumulto

Alegria que na sua ausência veste luto

Sensação de morte corriqueira
Traz a vida de qualquer maneira
Próxima: coração forte
Longe; eterno corte

Ficando: gozo e sorte

Em merecer sua diferença
Dar minha presença
Negar sua ausência
Compartilhar nossa querência

Ser seu eu que te penetra

O diferente que você procura
Conhecido íntimo que não tem nome
Que junto lhe preenche
Distante lhe consome

Marca sutil que jamais some

Ao seu lado piso as terras
Venero o céu singular de brancos e tons de azul
Mas já não sou tão mínimo
Nem universo distante algum

Sou seu amor e mais nenhum

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