18.3.05

Introspecção

Deixaste de ser e passou a ficar
Entregou-se a quem não poderia guardá-lo
Depositou toda esperança numa chance torpe e remota
E está aí, convalescendo, bêbado, por seu próprio barril

De ressentimento

Pois que você remói, rumina, vomita e digere
Todo o tempo o tempo todo
E viciado em sofrer encontra novo paladar
A cada antiga e decorada degustada amarga

É o paladar a que te remete a solidão

E consegue ser ignorante, vil e moribundo
Passeia por vielas feitas de sarjetas de tão estreitas
Úmidas pelo suor do desejo alheio que ali, junto se derrama
E esquece da duplicidade de quem não ama

Baixaste a guarda ao levantar a cabeça

Não existe nada além do horizonte
Que você não tenha objetivado antes
E teimoso, quis o impossível
E agora sofre feito uma mula

Carregando sozinho o peso de uma decisão

Ficou surdo para seus olhos
Com um corpo dormente não sentiu uma só palavra
E demente como os que ignoram a realidade
Excluiu-se de tocar a verdade

Bem feito idiota!

É seu próprio demônio, infernizando seu dia a dia
E sabe disso, gosta e quase adora
E o deus que cabe em seu peito é razoável
Detém razão e quer libertá-lo

Vai ser burro assim na casa do caralho

Pare de entregar seus dias, sua vida, seu prazer
Venda seu corpo mais caro, cobre por você
De valor aquilo que tem única e completamente
Controle sobre ser decente, dono de corpo e mente

Deixe de ser doente!

Um mundo novo de prazeres e felicidades lhe sorri
E como um morto vivo espera uma salvação por pecado incometido
Fostes sempre justo, menos consigo próprio
Perdoe-se e permita-se merecer

Já que babaquice tem limite

Agrida seu corpo beneficamente
Extirpe as unhas encravadas que doem e
Atrapalham o caminhar
Expurgue este lodo sagrado de suas veias carregadas

Doe seu sangue para renovar-se: renasça!

E que seja parido aquele mesmo homem
Obstinado, perseverante e feliz
Mas que saiba errar no primeiro erro
E que tenha menos resistência à dor

Pois ninguém mais agüenta esta aberração que já não anda

Que se arrasta pela vida carregando o mundo alheio nas costas
Que enxerga soluções para todos e se afunda em erros crassos
Um oráculo as avessas que advinha o presente e esquece do futuro
Fazendo deste um glorioso nada obscuro

Pára de fazer merda, idiota

Olha a seu redor, a sua frente
Sua filha, seus amigos sua gente
A pessoa que te ama e as pessoas por quem sente
Sacuda esta idéia tão ausente.

Este fim já chegou

E você perde tempo
Perdeu pro Tempo
Apostou com o único ente invencível
E como não era pra ser diferente

Se fudeu

Bata palmas pro vencedor
Estenda a palma da mão ao derrotado
E os apresente
Prazer, eu, por ter vencido
Merecido, eu, eu ter perdido

E aceite que esta luta acabou.

Fim!

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