Deixaste de ser e passou a ficar
Entregou-se a quem não poderia guardá-lo
Depositou toda esperança numa chance torpe e remota
E está aí, convalescendo, bêbado, por seu próprio barril
De ressentimento
Pois que você remói, rumina, vomita e digere
Todo o tempo o tempo todo
E viciado em sofrer encontra novo paladar
A cada antiga e decorada degustada amarga
É o paladar a que te remete a solidão
E consegue ser ignorante, vil e moribundo
Passeia por vielas feitas de sarjetas de tão estreitas
Úmidas pelo suor do desejo alheio que ali, junto se derrama
E esquece da duplicidade de quem não ama
Baixaste a guarda ao levantar a cabeça
Não existe nada além do horizonte
Que você não tenha objetivado antes
E teimoso, quis o impossível
E agora sofre feito uma mula
Carregando sozinho o peso de uma decisão
Ficou surdo para seus olhos
Com um corpo dormente não sentiu uma só palavra
E demente como os que ignoram a realidade
Excluiu-se de tocar a verdade
Bem feito idiota!
É seu próprio demônio, infernizando seu dia a dia
E sabe disso, gosta e quase adora
E o deus que cabe em seu peito é razoável
Detém razão e quer libertá-lo
Vai ser burro assim na casa do caralho
Pare de entregar seus dias, sua vida, seu prazer
Venda seu corpo mais caro, cobre por você
De valor aquilo que tem única e completamente
Controle sobre ser decente, dono de corpo e mente
Deixe de ser doente!
Um mundo novo de prazeres e felicidades lhe sorri
E como um morto vivo espera uma salvação por pecado incometido
Fostes sempre justo, menos consigo próprio
Perdoe-se e permita-se merecer
Já que babaquice tem limite
Agrida seu corpo beneficamente
Extirpe as unhas encravadas que doem e
Atrapalham o caminhar
Expurgue este lodo sagrado de suas veias carregadas
Doe seu sangue para renovar-se: renasça!
E que seja parido aquele mesmo homem
Obstinado, perseverante e feliz
Mas que saiba errar no primeiro erro
E que tenha menos resistência à dor
Pois ninguém mais agüenta esta aberração que já não anda
Que se arrasta pela vida carregando o mundo alheio nas costas
Que enxerga soluções para todos e se afunda em erros crassos
Um oráculo as avessas que advinha o presente e esquece do futuro
Fazendo deste um glorioso nada obscuro
Pára de fazer merda, idiota
Olha a seu redor, a sua frente
Sua filha, seus amigos sua gente
A pessoa que te ama e as pessoas por quem sente
Sacuda esta idéia tão ausente.
Este fim já chegou
E você perde tempo
Perdeu pro Tempo
Apostou com o único ente invencível
E como não era pra ser diferente
Se fudeu
Bata palmas pro vencedor
Estenda a palma da mão ao derrotado
E os apresente
Prazer, eu, por ter vencido
Merecido, eu, eu ter perdido
E aceite que esta luta acabou.
Fim!
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