8.4.05

Letra de Forma

Imprópria a letra que tenta diferi-lo
Não está na capitalidade da língua escrita
Ou no formalismo das maiuscularidades gramaticais
Sua infinita tensão emocional

Único e exclusivo que é a cada ser que se apresenta

Fosse fácil seria comum
Venderiam a qualquer preço
E como comumente ocorre
Esvaziar-se-ia seu sentido

Que é apenas tudo o que se sente

Conflitos inventados por nós próprios
Vícios de uma vontade torta
Que luta para não conseguir
Pois não se conforma com seu intrínseco merecimento

Cisma de não deixar-se permitir, ao menos, tentar

Aspiramos um ar que não se respira
Brigamos através de tempos incomeçados
Sacrificamos vidas mortas
E desperdício é a razão de um suor congelado

Que se expõe em rochas acreditadas intransponíveis

E é tão simples
Tão sutil
Quase uma piada de bom gosto
Não fosse nossa pressa em dar o primeiro sorriso

Sabido o prazer de quem simplesmente sente

Deuses, amor, tempo, dor
Tantas palavras que nos remetem a provações
Meu amor é sempre assim
Assíncrono, alitero, ilógico e imensurável

Amor, em particular, é o que é

Nada de grilha-lo em letras
Ele morre a cada pronome possessivo que se pronuncia
E tem na liberdade que lhe damos
O corpo finito que lhe basta

Implodindo cada alicerce frágil de nosso desejo

Criou-se esta idéia de amor carnal
De um desejo dissociado do sentimento
Do magnetismo da carne
Que suplanta a troca aditiva do amor

Ímpeto e impulso sexual são de natureza humana

Baseie uma relação em carne e sexo
E verá muito cedo o destino cumprir-se
Somos exemplos vivos
Que depois de expostos

A carne apodrece e o corpo perece

E esta coisa que é o amor
Prova-se maior que qualquer desejo
Transcende qualquer sanidade
Invade mais que qualquer falo insaciável

É mais prazeroso que qualquer sexo perfeito

Atitudes, desejos e destruições emanam dele
Vidas surgem e somem num simples começar e terminar
Deseje o que a pessoa é pra você
E não a sensação física que ela lhe proporciona

Esteja só e pense na pessoa amada

O cheiro impregna-lhe a mente
A sensação de embriagues arranca o peso das horas
O contorno perfeito da face brilha no breu da imaginação
E a excitação vindoura eriça-lhe o desejo e faz suspirar

Você faz em amor a pessoa e a ama sem sequer tocá-la

Amar não é conflito
Não é chorar
Amar é entrega e disposição interna
É querer se dar e ganhar

Feliz aquele que, antônimo de mim, já sabe amar.

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