25.4.05

Quasifeito

Quase é sempre um lamento
Grito de um querer desatento
Sucesso de um desfazedor de inventos
Um nada que ainda tento

Tudo aquilo que não agüento

Recusa inerte de tentar ainda mais
Como quem quer conseguir sem ter que lutar
Pelo desprezo da vitória
Pela glória insuportável da conquista

Justo por não julgar merecido tanto valor

Esperar por algo que sabido não vem
Pois mora em outro animo esta viagem
O rumar certeiro da colisão
De dois corpos que se compõe

Unidos por uma vontade rascante

Travando o doce do corpo
Roubando com a língua
As estrelas do céu da boca
Clareando o dia com o sol do desejo

Quando tudo falta descobrimos do que as coisas são feitas

A natureza é noite por excelência
Escurece quando há nuvens densas ao meio dia
O amor é sempre o outro
Notório que sou nada

Quando de ti, minha existência esvazia

Sentir falta é pros que apenas gostam
Dói, faz lembrar e passa
Saudade é para quem ama
Atropela, despedaça, acaba com o dia e fica

Aquela vontade de você, indevassa

Consumir sua transparência é o mínimo
Que a opacidade de meu despertar solitário pode fazer
Marcas de um lençol que parece comigo
Amarrotado, vasto, desusado

Como se o avesso fosse meu único direito

Agora quebro copos
Levanto com o pé esquerdo
Passo por baixo de escadas
Pego o ônibus errado

proposital, pra ver se a vida muda, e se acho você

Agrido cada poça d’água com pisões tonelares
Esperando que você saia do próximo reflexo
Mas você não vem, teima em se esconder
E cansado de tentar mudar o mundo, desperto

Chegada a hora de eu começar a fazer

Me busco em cada ausência sua
A cada segundo que desperdicei corro mais rápido
Por cada esquina que quis desentortar
Traço mapas de um encontro fantástico

Tu estás aqui dentro e fui tão longe me perder de você

Desculpe a demora
A falta de tato
Esqueci-me de mim
e acabei por esquecer você

na longa e triste infinda jornada que foi me desmerecer deste amor

quem esperou sofregamente foi você
por um eu que cismei te pertencer
agora encontro facilmente
o eu que quero lhe ser

descobri que nos dividia, quando devia me adicionar você

então vou amor,
pois nosso tarde é um quase
e eu quero ser cedo
até a vida anoitecer

Em lençóis de atalhos que sabemos tecer

Nenhum comentário: