23.11.04

O peso da Alcatra

Fiquei puto com uma porra de uma merda que vi hoje. Entre outras coisas que faço aqui no trabalho, uma delas é cadastrar clientes. Hoje estava cadastrando um médico e na sua carteira do conselho regional de medicina vinha escrito, no topo do documento em texto garrafal:

NÃO DOADOR DE ORGÃOS.

Tudo bem que ninguém é obrigado a ceder de livre e espontânea vontade pós mortem, através de um texto psicografado, que quer deixar seus restos mortais que os vermes vão comer e cagar depois para quem quer que seja. Mas um profissional de medicina, sujeito este que cursou no mínimo sete anos de um curso superior, fez residência, comeu o pão que o capeta não comeu porque estava tarde e foi dormir e dizem as más e boas línguas fez um juramento em prol da saúde e integridade física do semelhante mediante seu esforço e saber não ser doador de órgãos é no mínimo PUTARIA.

O cara depende muitas vezes de um órgão de outro paciente para salvar a vida de uma pessoa e em contrapartida botar mais uma graninha no bolso e mais um tijolinho de sua casa no paraíso. Este mesmo cara devia ser obrigado a ser doador de órgãos, pré-requisito da profissão, pois este malaco sabe mais que ninguém da importância da doação de órgãos para um e por vezes vários pacientes que empurram a morte com a barriga na espera de um transplante. Alguns destes agonizantes são bons contadores de história, outros não.

O avanço da biomedicina faz dos mortos geradores de sobrevida e é realmente intrigante um médico ser um não doador de órgãos. Aos médicos ou não, que são doadores parabéns. E aos médicos que não o são, ainda há vaga para açougueiro de nível superior por aí.

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