29.11.04

Sobre fatias, pizzas e famílias

Pessoas, só conhecemos com o tempo. Que pode ser maior ou menor se estivermos dispostos a observar, se estivermos realmente atentos às dicas que os outros nos dão o tempo todo. A natureza foi boa comigo, tenho olhos grandes, maiores que os ditos normais e, ainda bem, faço bom uso deles e da sua função final que é entender além de apenas ver a imagem que salta aos olhos e consome-se pela facilidade de um piscar de olhos.
Moramos oito na mesma casa. Temos todos uma relação estreita de parentesco. Somos bisavós, avós, pais, filhos, tios e netos. Incluamos o cachorro, que pelo afeto e pentelhação pode ser considerado da família. Ontem à tarde fizemos uma pizza. Diversas outras vezes já fizemos pizza para o lanche da tarde e, particularmente, gosto de tirá-la do forno e cortá-la, pois a espera pelo prazer de comê-la é menor.
Ontem foi diferente. Minha tia devia estar com fome e apoderou-se da faca para cortar a bicha que cheirava ao longe. Começou a cortar e parou logo no primeiro pedaço, no seu único pedaço. Colocou-o em seu prato e partiu para a sala, silenciosa e normalmente como se nada de errado tivesse acontecido.
A primeira vista realmente nada de absurdo aconteceu. Houve porem uma demonstração filha da puta do que não se deve fazer e de como age uma pessoa egoísta e mesquinha do caralho. Toda vez que eu corto a porra das pizzas ou seja lá que merda de comida for, eu corto para todo mundo, fatio a bendita em tantos pedaços quanto forem necessários e possíveis. Do mesmo tamanho se possível e em numero par pois que a família está num grupo assim formado e todos podem ter o direito de comer o mesmo número de pedaços se quiserem, sem ter que se sentir dividido ou desmerecido. Ao dividir aquela simples pizza estou dizendo a todos que estamos juntos pelo mesmo motivo, que possuímos direito ao mesmo direito, que o que é para um, se for de sua escolha, será do outro, mas é preciso saber mostrar isso aos outros. È essencial que todos entendam isso. Ser da família é o primeiro passo para tirar sim, proveito de tudo que ela oferece.
Uma simples pizza pode mostrar muito. Conceitos como família, igualdade, egoísmo, partilha, conjunto, doação, afeto, carinho, preocupação e tantos outros sentimentos que fazem parte da natureza humana.
Olhei, do verbo entendi, aquilo tudo em silencio. Acabei de cortar a pizza por completo. Meu pai entendeu a situação no ato. Elogiou a perícia com a qual realizei o ato.Serviu-se. Tirei o pedaço da minha filha e depois o cortei em pedaços ainda menores, sabido que é uma criança de quatro anos pois. Levei o café com leite da minha mãe e ofereci-lhe uma fatia, que recusou pela desculpa da dieta. Peguei meu pedaço e a vida continua.
Outras pizzas virão e tomara que eu seja rápido o suficiente para cortá-la. Que todos, e principalmente ela vejam e que também entendam que se o simples não for bem feito, nada será.
O mundo podia ser feito de bons cortadores de pizza. As famílias se tornariam paises e a fome por dias de paz talvez fosse menor. Mas no mundo, a maioria infeliz e infelizmente, só está preocupada com o próprio pedaço.

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